Contraste

No contraste do olhar inocente da criança brincando na calçada, em uma esquina próxima, uma vida é tirada.

-Quem era esse ser humano agora inerte estirado na calçada?

-Por onde anda sua família?

Fico eu a perguntar.

-Será que tinha família?Acho que estava voltando do trabalho.

Um curioso fica a questionar.

-Coitado, morreu segurando um pacote de presente!

No contraste dessa macabra dança, a criança fica a brincar na calçada.

Em um prédio, à sua frente, uma jovem fica a se despir e seu corpo a oferecer para quem quiser pagar. Na esquina, o corpo sem vida continua segurando o pacote de presente, a policia não aparece, as pessoas acostumadas com o cotidiano dessas desgraças resolvem seguir suas vidas.

O corpo inerte sem vida ali padece.

No contraste, a criança na calçada chama a sua mãe:

-Mãe, já montou a arvore de natal? O pai ta demorando!

-Calma, filho, o natal é só à noite, o pai já ta chegando.

-Esse meu marido... aposto que deixou para comprar na última hora o presente do nosso filho.

No contraste do olhar de um povo vejo:

doce natal...doce felicidade.