SOLIDÃO

E mais uma vez ela estava ali, sentada, parada, cansada, triste, angustiada, sem saber o que a fazia sentir-se assim. Claro que ela sabia, em muitos momentos de sua vida sentira-se assim, sem saber como se exprimir, sem saber como falar, sem forças e nem vontade. Viver e saber rir de suas agruras e não lutar contra a maré - isso é a vida perfeita. Mas ela nunca quisera a perfeição, queria apenas que a entendessem, ou a questionassem! Mas que nada, ela era vista, como a forte, a decidida, a que sabia lutar, odiava quando a chamavam de mulher guerreira - besteira, toda a vida a mulher guerreava e agora isso virava uma banalidade qualquer neste mundo bobo, louco por grifes, marcas, modelos, estereótipos e que não teria mais como reverter. Chega-se ao ponto que não há o que reinventar, tem é que se aceitar.

Mas como é difícil, nos últimos dias, ela via-se perdida no meio de seus pensamentos, no meio de suas emoções, sentimentos, olhava para uma avenida sendo aberta e sabia, que, quando as flores das árvores recém brotassem , ela não estaria mais ali, olhava para crianças e jovens, e pensava, como eles seriam no futuro, olhava para sua família e pensava que nada seria visto.

Era uma sensação vaga de não estar certa sobre coisas que antes ela diria e afirmaria! Era a saudade do que não tivera, por medo, por receio, pela mais pura covardia. Sua vida toda fora assim, então porque agora ela tinha e sentia essa sensação de “déjà vu” ou ao contrário quero ver! Quero viver, dia a dia seu tempo ia se extinguindo e ela não conseguia mostrar para ninguém, falar para ninguém, e, pior, agir por si, gritar por si. Tantas lembranças, tantas memórias, tanta falta de ser, de aparentar outras coisas, mas seria isso?

Ela gostava de pessoas, gostava de viver e sabia, que, em algum momento de sua vida, isso ficara para trás e agora o que ela queria era isso, ficar encolhida naquela poltrona, cabeça baixa, olhos baixos, tentando não pensar, tentando mostrar-se como era, e ficar ali, como um caracol, enrolada, lambendo suas feridas, com raiva de quem dizia “eu sei”, mentira! Não sabia coisa alguma! Sequer perguntava, então era mais fácil dizer que era uma fase , estresse, e um monte de outras asneiras mais, chatice, pessoas superficiais, amizades interesseiras, ranço de uma criação “certinha”.

Então , ela olha para ele, e, ele sorri, e diz que está tudo bem e ela repete, no momento em que ele a abraçava e a confortava , que estava mesmo. O problema seria depois, quando ele olhava para outro lado, quando ele seguia sua vida, seus caminhos, seus compromissos e ela ficava, ali, uma boneca estirada em uma poltrona, TV ligada, revista na mão e sentia o peso, o vazio de sua vida e sabia, que a essa altura ele já estaria ocupadíssimo, sem nem pensar nela, enquanto ela continuava ali, olhos fixos, pensamentos esvoaçando , vazio se alargando, pensamentos demais!

Chega! Tem que ser assim , senão vou virar uma louca e bancar Dom Quixote! Insanidade! Vida perigosa!

Mas viver e preciso, navegar é preciso, sorrir é obrigatório e faz bem para você, suas amigas, amigos, parentes etc...e tal

Então é isso , ela se levanta, se espreguiça, e vai se arrumar linda de morrer com um belo sorriso pronta para mais uma noite, mais uma festa, mais um casamento, e por aí vai.....