O Escritor
As preocupações com a qualidade, com os sentimentos expostos no papel, com a Língua Portuguesa e com os conhecimentos técnicos da arte da escrita, para a criação de um texto literário, devem estar nas prioridades máximas de um escritor de nossa Língua que sonha ser ou já é profissional. Acima de qualquer mecanismo na busca de um lugar ao sol: no meio literário é preciso olhar para dentro de si e observar se o que se está a realizar, nos textos em prosa ou verso são realmente valiosos a ponto de serem publicáveis em livro e merecedores de alcançar o grande público.
Defendo a tese do estabelecimento dos melhores, no mercado literário. Penso ser justa a valorização daqueles que realmente têm valor e se dedicam diuturnamente pela qualidade dos seus escritos. Certamente, amigos e amigas recantistas, que todos podem escrever e dividir sentimentos, angústias, sonhos, alegrias, desejos, transformados em palavras: com todos, não existe nada mais bonito que esta troca de sentimentos entre escritores amadores ou profissionais. Todavia, seria mais saudável assistir ao espetáculo do livro impresso com a presença dos escritores mais preparados para o ofício da escrita.
Todos têm condições de encontrar o caminho que levará ao livro impresso e a boa receptividade do público leitor. Não para ser quase unanimidade, como é Machado de Assis, mas para terem seu grupo de afins. Não se pode imaginar o apressado ato de querer o sucesso, precisa-se de uma continuada autocrítica e um continuado prazer em ouvir os mais diversos tipos de críticos e leitores, para então se fiar de uma boa consciência de qual o caminho a trilhar, dentro de suas identidades literárias, para ser um escritor profissional, nunca esquecendo do árduo trabalho diário do conhecimento literário, crescente a cada dia.
A Literatura não vai conceber Eternidade para quase nenhum escritor profissional, a estante dos escritores Imortais é restrita; na casa dos maiores, uma pequena casa de não mais que alguns metros quadrados, só estarão expostos para sempre uma ínfima parcela dos escritores profissionais. E certamente, apenas aqueles que se preocuparem com o desenvolvimento contínuo de sua escrita, aqueles que souberem entender o valor da diversidade na criação literária e da aprendizagem diária, da Ética e da humildade poderão ao menos visitá-la, mesmo que não se tornem Imortais.
Ficarão muitos pelo caminho, preocupados em boa parte, nas atitudes afirmativas de dizer que são escritores profissionais e na procura ininterrupta de mecanismos falsos para o seu espaço conseguir: na competitiva e afunilada corrida para entrar na casa dos imortais. Vejo, em muitos escritores esta preocupação com os mecanismos de inserção no rol dos escritores profissionais, talvez, por um esquecimento de que o sustentáculo e reconhecimento de qualquer Literatura são o trabalho diário em prol do texto, do conhecimento das técnicas inerentes à escrita literária e da leitura dos grandes mestres da Literatura Universal, e jamais qualquer ação para ser publicado, utilizando-se da amizade com o editor ou criando um grupo de amigos para se “autobajular” e “autocriticar” ou valendo-se da propaganda excessiva em qualquer meio de comunicação virtual ou real, etc. como instrumental para alcançar a fama.
É mais Honesto e Ético dedicar-se ao trabalho diário pela melhoria do texto literário, do que a busca de divulga-la acima de melhora-la! Lembre-se: o grande escritor não se sustenta nos preconceitos tolos de que não se pode estar ao mesmo tempo criando um texto em consonância com a tradição e outro com a modernidade. O grande escritor, isto sim, conhece e pode trabalhar com o Clássico Literário, o Moderno e até com a Poesia Concreta e o Pós-Moderno, e reconhece o valor de uma Obra, não pela escola seguida pelo autor de um livro e sim pela qualidade da literatura contida na obra.
Todo preconceito literário leva ao rebaixamento das possibilidades de alguém se tornar um bom escritor, porque, este escritor, se policia em ler o que segue determinada forma de escrita, incutida nele por uma idéia de que a qualidade e o valor da escrita está apenas em determinada escola literária. Esta visão errônea de qualidade e valor pode levar o escritor a perdas do seu tempo de estudo e dedicação à leitura e a escrita, valioso para o crescimento literário, para denegrir a imagem, o trabalho de outro escritor, tão somente porque este escreve seguindo outra escola literária. Escrever um Soneto Clássico e um Poema moderno com versos brancos, sem métrica e ritmo clássicos não é o problema. O que conta é realizar com qualidade tanto uma forma de Poesia como a outra. E o escritor profissional de qualidade deve ter esta preocupação. Na Poesia, por exemplo: ler Bernardim Ribeiro, Casemiro de Abreu, Olavo Bilac, Almada Negreiros, Ribeiro Couto e Décio Pignatari não é incompatível, e sim, saudável.
Enfim, acima de qualquer luta pelo seu espaço ao sol, pelo livro publicado, pelo sucesso e de ter o nome presente nas livrarias e enciclopédias de autores de literatura torna-se necessária à luta diária pela qualidade da escrita, pelo desapego aos preconceitos literários e o respeito às diferenças de estilo de cada escritor; sendo jamais necessários mecanismos tolos para ser reconhecido como escritor. Mesmo que nem todos gostem da obra que você publicar haverá ao menos o respeito do crítico e do leitor que não se afina com a sua Literatura mas respeita a existência dela, pelo fato de ser bem-realizada. O grande autor busca o caminho das pedras ultrapassar, na árdua e diária batalha pelo conhecimento literário, pelo seu crescimento como escritor e pela busca de novos desafios na sua escrita.
Fique bem claro que a qualidade literária não é falar difícil, nem escrever em constante diálogo com escritores famosos, nem tampouco, recorte e colagem de idéias de outros autores, realizando um novo texto. Pode até ser que aconteça assim, porém não é regra.
Qualidade é:
1) clareza das idéias;
2) o valor do tema escolhido e consciência de como foi construído o texto - desprovido de preconceitos e consciente de que literatura não é desabafo;
3) texto escrito com o apreço para com a Língua Portuguesa, com escolha vocabular adequada;
4) saber retirar os excessos do texto para ele não se tornar repetitivo;
5) construir imagens criativas;
6) buscar o novo (hoje em dia é essencial) para não se tornar repetitivo - não confundir forma com conteúdo - a forma pode ser Clássica ou Moderna e o conteúdo é mais saudável que seja o novo: uma metáfora inédita, um final inesperado, uma métrica diversa do habitual, etc.;
7) dedicação para encontrar o formato mais perfeito para o texto;
8) ter calma e não crer que o texto está pronto em minutos. João Cabral de Melo Neto em certa entrevista disse: - levei 9 (nove) anos para terminar um poema! Claro que nem sempre isto é sinal de ter alcançado a qualidade desejada, em Cabral que é um gênio, certamente que sim;
dentre outras coisas.
Um último comentário, certa vez um escritor lançou certo livro de poesia épica que ele quis fosse: “A História das Américas” - como se fosse “Os Lusíadas” dele. Levou 20 anos para termina-lo e o jornalista e crítico literário em poucas palavras disse: - Este livro não alcançou o seu objetivo! Nunca vi o livro em nenhuma livraria ou sebo. Entendem, amigos e amigas recantistas, o valor da consciência literária, da humildade, da importância do sentimento e da emoção, do conhecimento literário e de ouvir o leitor e a crítica para escrever um texto em prosa ou verso, um livro? Senão pode acontecer como este escritor que sonhou em realizar como Camões um Imortal Épico e não se ouve mais falar nele e em sua obra.
Podemos estar desperdiçando nosso talento na falta de humildade, na preocupação em sermos lidos a qualquer custo e na pressa em terminar nosso texto, não é verdade, amigos e amigas recantistas?!
Fiquemos com Deus, amigos e amigas recantistas, abraços e beijos, Alexandre!