PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE CINEMA

“Os relacionamentos não

Realizados são sempre

Mais românticos” ( Maria

Helena, personagem vivida

Por Penélope Cruz).

“Vicky Cristina Barcelona”, sob a ótica de Contardo Calligaris, (Folha de S. Paulo),é mais um filme típico de Woody Allen, que trata do relacionamento entre casais e segundo Contardo, descamba para o amor-paixão, que é uma tentação irresistível e um protótipo da vida intensamente vivida. Mostra também que nem sempre os relacionamentos dão certo, mesmo aqueles que parecem certo.

A análise que Contardo faz, - e ai usarei suas próprias palavras - diz respeito aos casais que se amam por “paixão, cujos parceiros parecem ser feitos um para o outro, em regra, acabam tentando se matar -. É porque, se o outro me completa e vice-versa, o risco é que nenhum de nós sobreviva à nossa união -ao menos, não como ente separado e distinto. Mas, por mais que seja ameaçadora, a paixão amorosa é uma tentação irresistível, por uma razão simples: nas narrativas de nossa cultura, ela é o protótipo ideal da experiência plena, da vida intensamente vivida".

É sabido que o amor-paixão não é um sentimento comum entre casais “normais”. Normalmente vivemos relações não tão conflituosas. Mas ainda Cotardo, não seria tão mal vivê-la “ em geral, nesses casais "normais", ao menos um dos parceiros vive com a sensação de que sua escolha amorosa é resignada, fruto de um comodismo medroso: "O outro não é bem o que eu queria; culpa minha, que não tive a coragem de me arriscar a amar..."

Deixo as considerações finais com Contardo, que nos diz: “ como o amor-paixão é um ideal cultural, não é preciso ter atravessado a experiência da paixão para idealizá-la (as más línguas diriam, aliás, que é mais fácil idealizá-la sem tê-la vivido em momento algum). Os que parecem não idealizar o amor-paixão passam o tempo se protegendo contra ele. Deve ser por isto que a "normalidade" amorosa pode ser insuportavelmente chata: porque ela exige a construção esforçada de defesas contra a paixão -argumentos morais e sociais, sempre mais "razoáveis" do que racionais . Num casal, quem critica a doidice da paixão não parece sábio aos olhos de sua parceira ou de seu parceiro; ao contrário, ele parece, quase sempre, pequeno e um pouco covarde. A paixão não é uma coisa que a gente possa encontrar saindo pelo mundo como um turista da vida.. Pois não basta esbarrar na paixão; ainda é preciso encará-la quando ela se apresenta.

Por fim fica dito, que o filme do Wood Allen é “triste porque os personagens se apaixonam, vivem sentimentos fortes, mas , no fim, tudo isso não transforma ninguém. Os personagens vão embora iguais ao que elas eram no começo”. Ficando provado assim, que o amor e a paixão não nos fazem necessariamente felizes, mas são uma festa e uma alegria porque deles podemos esperar ao menos isto: que eles nos tornem um pouco outros, que eles nos mudem. Agora, nem sempre funciona”. Segundo Contardo.

Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 20/11/2008
Reeditado em 20/11/2008
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