O QUE O MAOR NÃO FAZ!?!

De costas, de frente ou de lado, ela é considerada uma morena linda! O andar charmoso balança os quadris e os lisos cabelos longos, presos em um jeitoso rabo de cavalo. Os olhos são castanhos, a boca lembra a de Angelina Jollie, os dentes são alvos e seu sorriso é encantador. Além disso, suas mãos são delicadas, as pernas muito bem feitas, o bumbum é empinadinho e os pés bonitos se equilibram, magnificamente, sobre saltos altos.
 
Não!! Eu não sou “sapatão”, apenas ouço a “homarada” elogiar o seu corpo bonito e “dou a César” o que é dele.
 
De fato, fisicamente, ela é tudo o que eu não sou. A razão? Não sei, talvez esteja naqueles versos da música “Partido Alto” de Chico Buarque: “Deus é um cara gozador, adora brincadeiras, pois pra me botar no mundo tinha o mundo inteiro, mas achou muito engraçado me botar cabreiro na barriga da miséria e nasci batuqueiro. Eu sou do Rio de Janeiro”.
 
Mas, voltemos ao tema dessa crônica porque, se eu ficar “viajando na maionese”, pode acontecer igual a domingo passado, quando alguns leitores confessaram que não entenderam “Obama nas alturas”.
 
Meu texto de hoje envolve um jovem casal a quem não posso nominar, sob pena de ganhar um processão nas costas. Ele - linharense da gema, baixinho, troncadinho, enfezado e invocado- se encantou quando ela, proveniente da Bahia, veio estudar e trabalhar na nossa cidade.
 
Contou-me que foi paixão à primeira vista, que seu perfume inebriante o deixava zonzamente perdido em devaneios, que ela passou a povoar seus sonhos e que conquistá-la passou a ser uma questão de honra.
 
Ela, por outro lado, comportava-se dentro dos padrões impostos por um pai à moda antiga: “Filha minha é para casar virgem. Nada de saliência com cabra safado!!”.
 
Acontece que meu herói de hoje nunca foi assim, portanto, decidiu investir: cartões, rosas vermelhas, mensagens amorosas, declarações veladas e explicítas... Nada a convencia de que aquele era o “genro que papai queria”.
 
Foi então que, espertamente, ele decidiu investigar quais eram os seus gostos e descobriu um completamente incompatível com o seu: o musical. Que decepção! Ela adorava Daniel!!! Sertanejo não, meu Deus! Era demais para o seu coração, que batia forte quando ouvia Legião Urbana, Capital Inicial, Cazuza, Zé Ramalho e similares.
 
O desafio era hercúleo, era uma violência, mas ela valia à pena e ele decidiu aprender uma canção do parceiro do finado João Paulo. Baixou uma música em seu MP4, ensaiou, ensaiou, ensaiou... ensaiou, ensaiou, ensaiou... tinha ânsias de vômito, mas insistir era necessário.
Quando ele achou que sabia a letra, tirou-a para dançar ao som da sua própria voz. 
Ao seu ouvido ele cantarolou baixinho: “Quando o coração da gente se apaixona fica 
frágil, frágil de entregar, se o amor é forte, puro e verdadeiro não há nada que destrua. 
Passe o tempo que passar...” 
Não conseguiu terminar. Ela o empurrou e com profundo desgosto no olhar e na voz, 
disse-lhe: “Você errou, seu burro! Não é “frágil, frágil”, o correto é “frágil, fácil..”. 
E que voz de taquara rachada, hem!!”

Nossa!Imagina a cena. De qualquer forma, valeu o sacrifício porque ela acabou cedendo às novas investidas e eles acabaram se casando. Quer saber se meu herói virou fã de Daniel? Não, mas ele não apenas a leva para assistir a todos os shows desse cantor em solo capixaba, como a agüenta, a noite toda, sentada em seus ombros.

 
O que não se faz por amor, não é mesmo?