As palavras da minha boca
Esclareço que o fato de eu gostar de paulistas e sulistas não me faz, em hipótese nenhuma, inferior a estes. E devo assumir, a bem da verdade, que se ainda moro aqui, é porque tenho plena consciência do significado da palavra cidadão. Se alguém me discrimina por qualquer razão, dou-lhe somente a importância devida. Jamais darei à opinião de um lesa-gramática, a mesma importância que atribuo a de um sujeito cônscio da federatividade e de seu próprio papel enquanto membro desta.
Não me ofendo com o individuo que não gosta de mim por causa da minha cultura. Sinto-me triste somente. Mas logo me restabeleço, pois, sei que este “não gostar” não depende de sua vontade consciente. Tudo que ele pode fazer para não me entristecer é me respeitar. Isto me basta e basta á lei da civilidade. Dentro deste parâmetro, viveremos juntos e em paz por toda a vida.
Isto é o importante, deveras. O resto é chulismo, é incapacidade de colocar-se no lugar do outro. Ninguém pode me obrigar a gostar da jaqueira. Mas, se a minha estupidez cisma que devo destruir a árvore, o Estado deve coibir-me.
Eu que tenho o riso entre os dentes – que não confunda-se com vira-latismo – também tenho ojeriza a alguns do meu país. E nem por isso sou mais mau. A simpatia humana (comunhão de sentimentos e impressões) não admite fingimento. Nada tortura mais que um sotaque irritante! Aflige-nos o espírito, espreme-nos a alma, e nos faz mostrar irracionalidade. Eu procuro me relacionar com pessoas que não me surra os tímpanos, e às demais, respeito.
Estou convencido de que a obrigatoriedade ao respeito, já é o justo. Mais que isto, é demagogia.
Eu nunca aceitaria alguém lamber-me por obrigação, e cuspir de nojo. Embrulha-me o estômago só de pensar que eu também poderia ser forçado a lamber um desafeto natural.
Fica, então, definitavemente, assim resolvido: beijo a quem eu gosto, e aos demais, aperto-lhes às mãos.
E é isso, por hoje.