*Meu Mundo e Nada mais

Ainda vejo o mundo com os olhos de uma menina insegura. Verdade! Vive em mim a menina que ainda procura a mão do pai quando preciso atravessar o semáforo. Ainda busco a companhia de uma mãe todas as vezes que vou ao médico e espero ansiosa pelo diagnóstico.

Vejo este mundo assustada como minha filha adolescente, cuja mãe se perdera sem entender, sem encontrar a ponta do fio da meada. A memória a queimar de madrugada, esconde distante e camufla informações que ainda me faz suar.

Vejo de novo com os olhos de quem não conseguiu conectar a contradição de um discurso religioso corretíssimo e uma ética frouxa. Abandonar a família e fugir como uma jovem universitária a perder de vista. Perder os filhos. Perder tudo.

Aprendi a olhar com os olhos da moça que se deslumbrada com a Europa, esquecendo que tinha de voltar sem um tosta n bolso. Minha convivência naqueles tempos, morando com uma família de classe abaixo da média, com as suas consciências extremamente solidárias deram-me coragem de assumir os anos que viriam depois. Devo a eles o peito de pensar com liberdade e lutar por ela, mesmo quando isso venha me custar tão caro.

Fico a olhar este mundo com os mesmos olhos de uma mãe que já chorou tanto de tristeza como de alegria; de uma filha que careceu, nos últimos 30 anos de toda paciência de Sr seu pai; de um amigo meio introspectivo, caladão; que não sabe viver sem os seus afetos; careceu de um pastor consciente de suas fraquezas espirituais, emocionais.

Enxergo este mundo com os olhos apaixonados e ao mesmo tempo indignados, entusiasmados e desesperançados, ativos e acomodados de uma cidadã brasileira. Sou agredida pela dor da miséria, então eu choro por ter perdido tanto tempo e não ter feito o suficiente. Sou intimidada pela violência em vários momentos. Acabo sempre disfarçando o medo. Mesmo criticando as classes mais elevadas, continuo agindo como uma pequena que faz parte da burguesia.

Com os olhos de um ser sedento pelo sobrenatural, vivo em busca do transcendental. Uma pecadora em busca da santidade. Paradoxalmente, vejo-me santa com alguma saudade do pecado. Sinto-me a pior de todas, quando procuro amar a Deus, que não vejo, e ignoro, desprezando aquele próximo que vive tão próximo de mim.

Tolerar a indiferença humana? Não. Procurando construir pontes na direção de outras pessoas, muitas vezes perdi meu tempo. Tenho sede pelo Eterno que gera em mim, o imenso desejo de ficar só na maioria do tempo. Difícil de me fazer compreender a outros sem parecer egoísta. Sou missionária, mãe e, esposa, em um ciclo onde dezenas de pessoas não entendem o que eu mesmo admito: sou ambígua, às vezes centrada, paradoxal e lógica, meio doida.

Hoje me considero um referencial para muitos.

O mundo nada mais é que meu exílio; sou uma hospede forasteira nesta espécie de ninho, a terra é minha prisão. Continuo insistindo em caminhar; estou certa de que Deus é fiel. Ele irá aperfeiçoar a obra que em mim começou, cumprindo sua promessa de “operar em mim o seu querer e o realizar”.

*Este texto é parte integrante do meu livro “Parada Obrigatória”

Morumy klein
Enviado por Morumy klein em 20/11/2008
Reeditado em 20/11/2008
Código do texto: T1293291
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.