Como dizer quem são as mães
Dizer que a mãe é a flor mais bonita, uma estrela, um anjo da guarda e coisas do gênero todo mundo já disse ou escreveu. Ninguém mais consegue ser original para falar das mães! Não é fácil falar sobre elas, pois, tudo que se diga não irá atingir nem de perto o que a nossa genitora merece, que se escreva ou que se fale. Resta então mostrar algumas peculiaridades da nossa. São tantas que enumerar seria até enfadonho e escolher algumas é como escolher um presente, apenas um, dentre tantos que estão a sua frente. Então é fechar os olhos e dizer como na brincadeira infantil “mamãe mandou bater aqui”. Depois de Deus a quem mais recorremos é a nossa mãe, sinônimo de amor, bondade, ternura, compreensão, tolerância, perdão, dedicação, carinho e tantas qualidades. Que me perdoem as outras mulheres a mim relacionadas: filha, irmãs e esposa, mas, a mulher mais guerreira que conheço é minha mãe. Elas sabem o porquê dessa afirmativa e certamente terão de seus filhos esse reconhecimento. Nascida no primeiro quarto do século passado, mamãe foi uma mulher de vanguarda. Em sua juventude tinha atitudes pouco incomuns às jovens de então: montava, atirava com arma de fogo e pilotava barco à vela, recursos usados em seus deslocamentos da cidade interiorana onde morava, atravessando a pequena baia para as localidades em que exercia o magistério fundamental e de lá a cavalo em outros percursos. Organizava festas, corais, peças teatrais, costurava, bordava, pintava, fazia flores e era uma educadora nata, alfabetizando crianças e adultos. Tinha a frustração de não possuir o segundo grau à sua época o pedagógico que tornava seus concluintes professora normalista. Quando já passava dos sessenta anos, um dia lhe inscrevi nos exames supletivos e trouxe apostilas de matérias consideradas “decorebas” (como se falava há algum tempo), tendo mamãe sido aprovada em todas, ficando para uma segunda etapa, aquelas de maior conteúdo programático como Física, Biologia, Qúmica, Matemática, língua estrangeira (Espanhol), que seis meses depois foram eliminadas, após mamãe frequentar um cursinho preparatório. Mamãe se deu ao luxo depois de ensinar em casa pontos de química e literatura para colegas seus que ficaram devendo a disciplina. A etapa seguinte seria o vestibular, mas ela arquivou essa aventura por motivos mais nobres, contudo ostenta o certificado do hoje ensino médio, com a façanha de tê-lo obtido sexagenária e em menos de um ano. Dona de uma grande oratória era sempre aplaudida nos palanques, tanto em comemorações ou em campanhas políticas das quais ainda lembro de ter presenciado vários de seus pronunciamentos, testemunhando envaidecido as palmas e cumprimentos emocionados. Minhas primeiras lembranças são de saudade, quando me acordava e sabia que ela tinha viajado de madrugada, e à noite dormia agarrado a um de seus vestidos. Quantas vezes passeamos juntos de braços dados eu ainda menino. Ainda o faço prazeirosamente. Mãe extremosa, filha dedicada, irmã, nora, cunhada, tia, prima, madrinha, amiga de não deixar ninguém na mão e esposa constante até os últimos suspiros de meu pai. Serva fiel do Senhor, pregadora de seu amor e de sua salvação é uma testemunha viva de sua misericórdia, de seu amor e de suas bênçãos. Falo muito de mamãe e vou passar a vida fazendo isto, contando e recontando suas histórias, de sua atuação, seus ensinamentos e recordando seus feitos. Mamãe já está com mais de 83 anos e é uma referência para seus filhos. Costumo dizer que ela é o nosso Elizeu, parafraseando de que "há ainda profetas em Israel", pois, quando surge um problema, a gente corre e acorre para ela. Um dia destes precisava eu tomar uma injeção para combater a gripe. Para isso teria que ir ao médico, obter uma receita e procurar um ambulatório ou uma enfermeira e etecetera e tal. Sem tempo e disposição o jeito foi apelar pra mamãe. Preparei a seringa, e me submeti a sua santa mão. Ela passou o algodão com álcool delimitando o local a ser inoculado o líquido e eu esperando a agulhada com relativo temor, mas confiante. Passaram uns vinte segundos e eu não me contive: “vamos logo mamãe, não demore”. “Demorar o quê? Eu já apliquei!”. Esta é a minha insubstituível mãe!