NO TEMPO EM QUE ELES ERAM SÓ CRIANÇAS.....

 

   Estávamos reunidos para um almoço dominical, meus filhos, minha nora, meu genro, minhas netas, a patroa e eu. Como qualquer almoço dominical de qualquer família, naquela mesa todos riam, falavam ao mesmo tempo, faziam comentários sobre a comida, contavam piadas.

  Gosto desses encontros, que na verdade acontecem pelo menos uma vez por mês. No entanto, naquele domingo alguma coisa estava diferente. No principio não estava entendendo muito bem o que estava acontecendo , mas sentia no ar que alguma coisa diferente estava acontecendo.

   Discretamente, procurando não chamar a atenção, olhei para cada um dos meus filhos. Não eram mais crianças, eram dois adultos, com duas familias diferentes. Meu filho, o mais velho, trinta e cinco anos ! Trinta e cinco anos que passaram rápido, muito rápido.

    Um homem feito !  Pouco lembrava aquele garotinho que corria comigo , querendo sempre chegar na minha frente. A nostalgia e a saudade estavam invadindo meus pensamentos.

    Fechei os olhos por um instante e voltei no tempo . Lembrei-me de quando aos domingos pela manhã eu levava os dois para brincar naquela pracinha que ficava perto da minha casa. Meu filho, já andava de bicicleta sem aquelas rodinhas de apoio e minha filha, ainda pequenina , se aventurava a dar umas voltinhas, mas com duas rodinhas protegendo para que não caísse.

   Bons tempos aqueles. Os dois disputavam meu colo e cada um no seu linguajar próprio me imploravam para comprar sorvete. Eu relutava, até porquê faltava pouco para a hora do almoço e a mãe deles, certamente passaria um sermão daqueles nos dois e em mim se não almoçassem direito.

   Lembro-me da primeira vez que levei meus filhos a creche. Uniforme azul, blusas brancas e uma pasta com papéis para desenho e caixas de lápis de cor. Cada um a seu tempo, os dois me olharam com um olhar suplicante quando os deixei a porta da escola.

   Entretanto, quando fui buscá-los mais tarde, o olhar de súplica tinha se transformado em olhos brilhantes de satisfação. Durante o dia brincaram tanto, que se esqueceram do pai. Claro !

   Meu filho sempre gostou de brincar com carrinhos mas minha filha, surpreendentemente, sempre preferiu as bolas, correrias, artes e baguncinhas muito mais apropriadas para os meninos. Como o tempo passou !

   Hoje os vejo sentados ao meu lado como adultos, como responsáveis por suas familias e pela educação de minhas netas. Uma outra geração que está vindo. Meus filhos não me deram muito trabalho quando eram crianças. Claro que ficaram algumas vezes de castigo, claro que me deram alguns sustos mas também, lógico, agradeço a Deus todos os dias pelos filhos que tenho.

   Mas o que é extremamente curioso e que me intriga, é por que será que às vezes sentimos saudade do tempo em que eram crianças, que cabiam perfeitamente no nosso colo, que suas mãozinhas ficavam escondidas entre nossas mãos ?

   Por que será que, pelo menos uma vez na vida, temos vontade de entrar numa máquina do tempo e voltar aos melhores momentos da época em que nossos filhos eram crianças ?

   Lembro-me de um dos aniversários do meu filho. Fizemos uma festinha caseira, um bolinho como se costuma dizer. Deixei para bem mais tarde, antes de colocá-lo na cama, para dar o presente que tinha comprado. Era um carro a pilhas na cor vermelha, exatamente o que ele queria ganhar.

    Quando entreguei o pacote colorido, meu filho deu um salto da cama, perdeu imediatamente o sono e brincou com o carrinho madrugada à dentro, esquecendo-se completamente que no dia seguinte eu e ele teríamos que levantar bem cedo, ele para ir para escola e eu para o trabalho.

   Já com minha filha, uma das melhores lembranças foi no dia em que fez a primeira comunhão. Ela estava linda. Parecia realmente um anjinho. Fiz o possível para não me emocionar, para não chorar mas, chegou uma hora que perdi totalmente o controle e aí, foi um mar de lágrimas.

   Naquele domingo, sentado à mesa com meus filhos, olhei os dois com toda serenidade e na minha mente passou um filme de todos aqueles momentos desde o nascimento até a fase adulta dos dois. Confesso que senti saudades daquelas vezes em que carreguei meus filhos no colo.

   Lamentei não ter participado mais das brincadeiras, ter exagerado um pouco quando chamava a atenção pelas travessuras dos dois. Talvez eu devesse ter sido um pai mais amoroso, mais carinhoso . Mas se agora eles estão comigo, sentados ao meu redor, olhando prá mim sem entender porque estou com os olhos cheios de lágrimas é porque de fato, eles me amam.

    Quanto às lágrimas, provávelmente foi um cisco que caiu no meu olhos.....

 

 

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(.....imagem google.....)




 

WRAMOS
Enviado por WRAMOS em 19/11/2008
Reeditado em 05/02/2013
Código do texto: T1292955
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