Hormônios Frustrados

O que seria do jovem sem as baladas? Balada é coisa de gente boa, "antenada", "ligada na parada", lugar de gente "in". A balada é uma espécie de ambiente hostil que todo mundo gosta. As pessoas não se irritam com fila quando vão à balada, não reclamam do som alto e quando dá briga todo mundo sai de perto, ao invés de ficar assistindo. É na balada, também, onde rolam os melhores diálogos:

- Daí, mina. Tudo certo? – "tunts tunts" rolando e a galera "alucinada".

- Hãn, que que foi? – tira o cabelo escorrido de cima da orelha para ouvir melhor.

- Daí, mina. Beleza? – quase gritando.

- Acesa? Se eu tô acesa? Ah... sai fora, vê se te enxerga!

A balada é o consolo do jovem. Tudo aquilo que está engasgado ele extravasa sob o pretexto de se divertir. Os meios são diferentes, mas a maioria tem o mesmo objetivo. Mas já que as frustrações não saem espontaneamente, ele precisa de uma ajudinha, coisa que meia garrafa de vodka pode resolver.

- Pô, cara... agora tô legal... tô sentindo que pegou.

- Te falei... aqueles três capetas não iam adiantar. – joga fora a garrafa de vodka vazia.

- Agora tô calibrado, já dá pra entrar. – vão em direção à fila.

- Peraí, Brow. Antes de entrar eu queria te dizer que, "pô", "tipo assim", tu é meu amigo. Amigo de verdade é assim, cara. Bebe junto e cuida do outro quando ele cair. – os dois se abraçam, o outro vomita.

Temos que levar em conta, também, os momentos que antecedem a balada propriamente dita, o que podemos chamar de pré-balada para que não haja confusão com o "esquenta".

A garota passa horas no cabeleireiro fazendo escova, chapinha, relaxamento de fios e qualquer outra nova técnica revolucionária - talvez eu desconheça na minha ignorância capilar. A base reboca a cútis, o rímel, a sombra e o batom dão novas formas ao rosto e o esmalte colore as unhas. Capricha no decote e nos acessórios. Os brincos balançam e engatam nos cabelos. As pulseiras badalam com o movimentar dos braços. O perfume anuncia a uma distância de 500 metros que ela está chegando. E ela sai, toda poderosa. Uma verdadeira princesa.

O garoto passa metade do dia tomando cerveja, na outra metade ele dorme ou joga "Play Station". Pouco antes de sair, veste uma camiseta "bem louca" comprada na loja de "Surf Wear" e põe um bermudão três números maior do que o seu manequim pra que a cueca apareça. Dá uma desarrumada no cabelo e capricha no desodorante porque viu na propaganda que as mulheres se derretem pelo cheiro. Encontra-se com a turma de cinco ou seis homens que embarca no carro "tuning" do amigo mais afortunado. Botam o "tunts tunts" a rodar e arrancam cantando pneu. Todos os ocupantes têm em mãos uma "Long Neck" e vão mamando até o destino.

A esperança dos garotos é fazerem sucesso com as garotas. A das garotas é que sejam as mais bem arrumadas da turma de amigas.

E assim o tempo passa. E o jovem, o que seria dele sem a balada? Será que estaria comprometido com causas sociais ou políticas? Será que externaria sua revolta em questões mais úteis? Não. A balada não é a culpada pela apatia dos jovens, é apenas uma fuga. Uma fuga para uma geração que não tem inimigos concretos a derrotar e está sem o mínimo estímulo para viver.

Não há nada de errado em se divertir, oras!

Luís Guilherme Sella
Enviado por Luís Guilherme Sella em 19/11/2008
Código do texto: T1292773
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