CRONICAS DE CHRONOS
Há muito tempo atrás, quis escrever crônicas. Não as conhecia por esse nome, e não as queria como todas as outras que eu achava que eram crônicas, mas sim diferentes.
Queria-as levemente ao lado do costumeiro, capturando momentos e contando, cada uma delas, histórias subliminares mais profundas, só visíveis sob a luz de uma maior atenção.
A um grupo delas, chamei-lhes “enquadramentos”, travesti-os de contos, e poucas coisas terei escrito que me tenham dado tanto prazer.
Um desses contos, em particular, chamado “Desencontros”, falava dum casal que combinara encontrar-se num jardim que lhes era comum. Tinham chegado nele ao mesmo tempo, e nele tinham coexistido embebidos da mesma paixão e das mesmas ânsias.
Mas tinham demorado a encontrar-se, e desperdiçado muito do seu tempo em comum, simplesmente porque achavam, sobre a mesma coisa, coisas diferentes. Ele cria ter chegado demasiado cedo, e ficou esperando o tempo passar. Ela imaginando-se atrasada, e ficando apenas para aproveitar a solidão e a beleza do jardim.
A linguagem que usei para o conto/crônica não é excessivamente codificada, nem difícil de deslindar, e, no entanto sempre existe nele, parece-me, o perigo de a mensagem parecer tão leve que passe despercebida, e se acabe perdendo. Talvez até pelos mesmos motivos que os dois personagens se desencontraram: - pela presunção do desencontro.
Nesse contexto, creio que, então como hoje, nunca é demasiado alertar para a celeridade do tempo passando, e para os cuidados excessivos com que tantas vezes nos rodeamos, e ás situações que nos circundam, e que acabam impedindo-nos de nos entendermos fácilmente.
E quem nunca presumiu impossibilidades ou culpas, excessivamente ? Quem nunca deixou a ansiedade tolher prazeres e realizações importantes, ou até mesmo fundamentais ?
Para quem aprecia: - Chronos raras vezes é complacente. O Tempo, a oportunidade, o momento sublimemente isolado do contexto opressor – somos nós quem faz !
Para todos: - tempus fugit. Apressemo-nos...!
Nov 2008