Ah, hoje estou pra prosa...
Águida Hettwer
 
 
 
   Vivemos num mundo tumultuado, levados a presenciar fatos desagradáveis cada vez que acionamos o controle remoto da televisão num final de noite, onde telejornais competem quem vai revelar a pior noticia do dia, do pai que atirou a filha pela janela, do namorado possessivo que matou a sangue frio a sua amada, o camarada deprimido depois de ver essas noticias falta apenas cortar os pulsos para completar a dose. E tantos outros casos que me nego a mencionar para não banalizar ainda mais a violência.  Um ponto de interrogação instiga-me, retorno as minhas raízes, onde o ar é fresco, cheirando a Pitangas maduras, o céu é mais azul e às vezes colorido pelas pandorgas dos meninos. Colecionadores de figurinhas, bolas de gude, dançadores das musicas do Elvis nas apresentações dos dias dos pais. Lembro-me tão bem disso, morava na frente de uma escola e via meus irmãos em seus “ensaios”.  A rua onde morávamos tinha nome bem sugestivo, chamava-se; “Rua das crianças”. Onde brincar nas frentes das casas até tarde era rotina saudável. Ainda perco-me nos verdes campos a perder de vista, e na terra vermelha que não desgrudava dos sapatos e as roupas encardiam de tanto ralar no chão. Éramos participantes da vida, em ternas emoções. É como um garoto sem estilingue que não mata passarinhos, pelo contrário, ajuda-o a voar mesmo com as asas machucadas. Viver em uma sociedade ainda inocente, onde a vida é exaltada não tem preço que pague. É como dormir encaixadinho, somando palavras de afeto, num respirar sincronizado. Um patrimônio cultural que se estabeleceu para semântica da vida. E me faz galgar nessas doces lembranças, mesmo que meu versejar seja simplório e utópico, prefiro acreditar, que no dia de amanhã há esperança. De cada um resgatar a inocência adormecida.
 
 
19.11.2008