Belo Horizonte, minha estranha cidade

Belo Horizonte, minha estranha cidade

suzabarbi@hotmail.com

I

Estranha cidade é Belo Horizonte...

Cheia de ruas (ou serão corredores?), onde o vento sopra e

atrapalha os cabelos das pessoas, varrendo de suas almas qualquer pensamento inoportuno.

Cidade que deixa as marcas de suas noites, numa Praça da Liberdade vestida de camisetas pintadas de Bush, o palhaço.

Praça que comemora a moda, cheia de gente estranha.

Cidade que abandona carrinhos de pipoca amarrados aos postes.

Postes, alguns, de luzes ainda acesas, que tremem para se apagarem com vergonha do dia que nasce emburrado, prenúncio de um outono que teima em não chegar.

Estranha cidade é Belo Horizonte, que de tão estranha é tão bonita.

Cheia de flores.

Cheia de gente estranhamente bonita.

Estranha cidade essa...

Que se apressa para chegar às seis da tarde e se encher de prazer até às oito.

Prazeres que lotam seus bares, praças e academias em rituais tão estranhos.

Estranha cidade essa...

Que desacelera às oito para não chegar às dez...

Que tem medo da noite acabar antes de esgotar seu último gozo.

Cidade que se agita em sonhos estranhos.

Para acordar de mansinho, quando ainda é escuro.

E poder mostrar em seu céu o máximo do absurdo: uma lua amiga do sol.

Sol e lua, lado a lado, como se pudessem, numa órbita bizarra, contentar os opostos e realizar todos os desejos dessa cidade tão estranha...

Estranha cidade essa que esconde em sua fachada sua sorte tão sisuda.

De ser uma estranha terra de alegres e divertidos bares.

De meigo e aconchegante povo.

De sujos pivetes que dançam nas ruas, cobertos por mantas imundas, assustando aqueles que passam com seus trejeitos malucos.

Estranha cidade essa que festeja anos em clubes fechados.

Que acolhe seus filhos em parques verdes e bem cuidados.

E que derrama seu suor em buzinas desesperadas pelas ruas afora.

Estranho coração é o meu.

Que se perturba com o silêncio das madrugadas dessa cidade tão estranha.

Que se apaixona pelos seus bairros e que busca descobrir o porquê dessa cidade estranha.

Tão apaixonadamente estranha.

Estranhos, tão estranhos são os meus passos.

Que me levam sempre à mesma praça.

Lugar de diferentes sons.

Diferentes passos.

Diferentes almas.

Praça que já ouviu o cantar de Nina Simone.

O blues que acariciava seus manacás floridos e cheirosos.

Estranhos pensamentos tive sobre essa estranha cidade.

Que, de dia, mistura todos os cheiros.

E à noite dorme cheia de barulhos obscenos.

Estranha cidade essa que se escancara florida, radiante com a primavera chegando.

Que esconde seus meninos sujos e descalços, cobertos de poeira de asfalto.

Estranha cidade que recebe a pressa comum das sextas-feiras

com um hino de eterno amor aos seus bares.

Estranhos passos os meus.

Que passeiam encantados por essa estranha cidade...

Que estranha cidade é essa, que nos oferece tantas distrações em suas estranhas ruas?

Orquestra Sinfônica nos parques.

Linda música em meio ao barulho raivoso de carros e ônibus, que atravessam pelas ruas vizinhas, indiferentes ao som de Mozart e Beethoven.

Que estranha cidade é essa que tira fotos de seus filhos nas frias ruas desse inverno que venta tanto.

Que exibe meninas andando semi-nuas, como que debochando dos relógios que marcam 12 graus.

Que juventude é essa que vibra com Mozart e dança rock ?

Que é linda em sua tenra idade e anda como se levasse choques em seus pés, dando saltos, pulando, porque a vida tem pressa e ainda é radiante.

Estranha cidade essa onde papéis jogados nas ruas se movem ao vento numa dança mágica.

Onde buzinas tocam irritadas e os carros procuram as sombras das árvores para esperarem os sinais se abrirem.

Estranha cidade de shoppings lotados de jovem gente. Com estilo. Falando alto.

Que não entendem o quão misteriosa é essa cidade.

De ventos e de montanhas.

De parques e de praças.

Cidade que não esconde sua sensualidade não desvendada.

Porque seu fascínio está nesse mistério.

Que estranha cidade é essa que ainda consegue guardar o seu grande mistério?