A geração que não sabia brincar
- Tchau, pai! To indo pra festa, nem tenho hora pra voltar!
Penso comigo, como os tempos mudam. Em 1980 não era bem assim.
Quando eu cruzava a minha adolescência não existiam essas FESTAS e também não tinha essa coisa de drogas e toda essa ''pegação'' que existe hoje em dia. No máximo íamos às ''brincas'', como chamávamos as ''festinhas'' da minha época. Gostávamos delas porque eram o encontro dos amigos, era lá que nos reuníamos para conversar e dançar um pouco. Nossos pais não eram liberais como os de hoje, que deixam os filhos soltos pelas ruas até tarde. Nossas brincas começavam cedo, antes das 19:00 e acabavam, no mais tardar às 22:30 – chegar depois era sinônimo de castigo e sermão por pelo menos três semanas.
O negócio era simples. Juntávamos uma galera na garagem da casa de algum amigo, as luzes eram improvisadas, enfeites de natal, carnaval, ou qualquer outro, valia de tudo pra esconder o cheiro de óleo e dar um colorido mais interessante ao ambiente. Nós bebíamos poncho, uma bebida quase esquecida nos tempos, mas que sempre encorajava os caras mais santinhos a conversar com as garotas. Às vezes rolava um pouco de álcool, não muito, quase nada, acho que era uma forma de tentar mostrar maturidade e impressionar os ''brotos''.
Existiam também os correios elegantes, uma forma barata de tentar conquistar alguém sem precisar chegar na pessoa. Lembro-me como se fosse hoje; gastava todo o meu dinheiro e mandava as mensagens mais bonitas, mais melosas, para a garota mais linda da festa. Ela olhava, me dava até esperança na hora das danças, eu percebia a provocação. É óbvio que era apenas pra brincar comigo, mas eu me divertia naquela inocente mentira.
Acho que a tecnologia atrapalhou tudo, nos deixou sedentários, preguiçosos e até menos sociais. Parece que as festas perderam o sentido. Hoje em dia, os jovens mandam mensagens pela internet e celular, o que distancia cada vez mais as pessoas.
É difícil, mas, se eu fechar os meus olhos, ainda posso ouvir as músicas dos ''Pet Shop Boys'' e sentir aquela deliciosa sensação de liberdade. Os jovens não dão valor ao que conquistaram. Não sabem o que é desafiar os pais para poder escutar ''Legião Urbana'' e usar tênis ''all star''.
Não faz mal, serei um pai diferente. Sou moderno e estou antenado com essa nova geração...
- Pai, a Priscila ta grávida e vai vir morar com a gente, firmeza?