Felicidade na Ponta dos Pés
A felicidade é como o caminhar: Cada pé está sempre atrás do outro. E quando um dos pés consegue, mesmo que por alguns segundo, ficar lado a lado com o outro; logo descobre que aquele já está um passo a sua frente.
Nesta semana foi destaque na mídia o afastamento das gravações de um ator muito conhecido, especialmente pelo público das novelas. O fato deveu-se ao uso e dependência às drogas.
Na mesma semana, a caminho da banca de jornal, li uma dessas frases de pára-choque de caminhão, que dizia o seguinte: “se você acha que dinheiro não traz felicidade, me dê o seu e seja feliz”.
Não pude deixar de relacionar os dois fatos. Considerar a razão de alguém, que presumidamente teria tudo pra ser feliz: dinheiro, popularidade, galã de novela; tivesse chegado a tal limite. Se afastar do trabalho por não mais conseguir ter controle sobre si mesmo e da própria vida. Nada parecido como o que costumamos entender por felicidade, convenhamos.
Se dinheiro não é garantia de felicidade, muito menos a completa falta dele; qual é então a fórmula para se conseguir ser feliz? Se é que existe!
Tanto me perdi nestas divagações, que me descuidei e bati com a ponta do pé numa enorme pedra no meio do caminho. Inchou na mesma hora. A dor era tanta, que sequer lembrava mais da tal frase do pára-choque, ou das notícias da mídia.
Com muito custo e sacrifico finalmente cheguei em casa. A única coisa que passava pela minha cabeça era ter meu dedão do pé intacto, tal como antes. Naquele momento; a minha felicidade mais desejada.
Nos dias que se seguiram, não consegui fazer nada. Caminhar não podia. Dirigir, nem pensar! Ônibus? Sempre tem um mais apressado, que escolhe pisar justamente onde não se deve.
Com certeza alguém vai perguntar: - “Qual a relação do dedão com toda essa história?”
O fato é que eu jamais tinha me dado conta da importância da integridade do meu dedão do pé.
Ao poucos fui melhorando, e lembrei de uma frase de Saint-Exupéry, no seu conhecido clássico “O Pequeno Príncipe”, que dizia: “O essencial é invisível para o olho”.
Esquecemos de observar as coisas simples, que existem bem ali e não enxergamos, ou só valorizamos, quando já não estão lá, ou sob ameaça de não estar. Acabamos nos perdendo em grandes reflexões. É nosso hábito dar mais valor as coisas que não temos, e o que temos nos parece mera obrigação da criação.
Talvez, exista maior infelicidade em perder o que se tem, do que não conseguir o que se deseja.
Somos por natureza insatisfeitos. Queremos sempre ir além. E esse além, assim como a felicidade, parecem ter o mesmo tamanho do infinito. Não há chegada; só caminhos a serem percorridos.
Ninguém deve concluir com isso que dinheiro não traz felicidade, ou que dizer que traz seja uma meia verdade. Mesmo porque meia verdade não é mais que uma mentira completa. Apenas, não é garantia duradoura; nem os holofotes da fama. É curioso imaginar que uma celebridade passa boa parte da sua vida tentando ser conhecida, e quando consegue; coloca óculos escuros para não ser reconhecida. Deseja ficar anônima. Coisa que já era antes.
Pode haver felicidade nas coisas simples ao nosso redor, e ninguém precisa ganhar muito dinheiro, ou virar celebridade pra descobrir isso. Basta repensar as palavras de Saint-Exupéry; ficar atento aos detalhes. Aos visíveis, ou não.
Continuo olhando para o infinito, mas ao olhar para baixo, e ver meu dedão finalmente curado, percebo que pode haver também felicidade nas pontas dos meus pés...