DEPENDE DE CADA UM?!...

“A democracia é dar a todos, o mesmo ponto de partida. Quanto ao ponto de chegada, isso depende de cada um” ( Mário Quintana).

O dia mal começou, são nove horas da manhã e já encontrei algo para me preocupar. Fiquei pensando nas competições olímpicas. Se todos partem de um mesmo lugar democraticamente, a chance de ganhar a medalha depende exclusivamente do atleta? Faz sentido. Se o desportista dedicou tempo suficiente de treino, alimentou-se saudavelmente, deu ao seu corpo o tratamento adequado, preparou a sua mente ele tem toda a chance de ser “o vencedor”. Tudo depende dele. O treino, os cuidados com o corpo, a preparação mental. Depende ou não depende? O atleta brasileiro tem mesmo essa oportunidade de dedicar-se exclusivamente a uma competição? A história que se vê de muitos vencedores não é essa. As dificuldades de adquirir um tênis, o tempo que dividi entre o treino e o trabalho para se manter, são histórias comuns que se escutam de campeões. Mas se são campeões eles “chegaram” com sucesso, isso reforça a frase da epígrafe de nosso grande poeta Mário Quintana?

Sabemos a história, de um, dois ou três vencedores, mas quantos outros não tiveram a sorte desses três? Seguindo o mesmo esquema, a mesma labuta a mesma dedicação. Não estou questionando aqui a frase do extraordinário poeta gaúcho, mas sim, generalizar o que foi dito por ele, para se eximir de responsabilidades.

Por exemplo, não basta quantificar o número de escolas, se ela não é de qualidade, se a família do aluno não está inserida no processo, a teoria do dom que explica as causas do sucesso e fracasso escolar atrelado às características individuais do aluno, é apenas um pedaço dessa história. As desigualdades sociais, o déficit lingüístico presente nas camadas populares segundo a teoria da deficiência cultural também são fatores determinantes do sucesso ou fracasso escolar. É preciso levar em conta que os pontos de partida não são os mesmos. “Escola” não significa partir em mesmas condições. Quem parte de uma escola privada já está levando vantagens. Ser competente não garante ser campeão.

Mário, Mário você faz falta. Suas sábias palavras continuam lidas e presentes no cotidiano dos que gostam de ler, dos que valorizam a boa leitura. Sem subestimar a capacidade dos vitoriosos, só você, lá do céu pode responder: além do esforço, inteligência e peculiaridades específicas de cada um é preciso sorte ou milagre para se chegar a algum lugar, quando não existe o mesmo ponto de partido para todos?

Maria Dilma Ponte de Brito
Enviado por Maria Dilma Ponte de Brito em 18/11/2008
Reeditado em 09/05/2020
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