Mega Vó 5: Professora em Final de Carreira
Professora em Final de Carreira
Ana Esther
Lá estava a Profa. Gumercinda instalando o novo aparelho do “Data Show” que a escola pública pobre, do bairro ainda mais pobre, recebera do governo, para surpresa de professores e pais de alunos. Em véspera de eleições isto deveria ser mera coincidência! Com tudo pronto para passar a seus alunos uma sessão de slides sobre Aquecimento Global... eis que um ‘apagador’ é arremessado contra ela lá do fundo da sala!
‘Larga esse computador, sua véia coroca!’ Uma voz cheia de raiva berrou.
Na cabeça dolorida da Profa. Gumercinda, em questão de segundos, veio-lhe à mente toda a sua longa trajetória de sacrifícios. Caída no chão com a cabeça sangrando e ao som da gargalhada geral na sala ela lembrou-se dos anos e anos que ela, uma moça super humilde passou trabalhando o dia inteiro para bancar os seus estudos para transformar-se numa professora, seu maior sonho na vida.
Seu sonho somente virou realidade depois dos trinta anos de idade quando ela finalmente conseguiu formar-se na faculdade! A partir daí passou num concurso e tornou-se a Profa. Gumercinda! Tão dedicada aos seus alunos e aos seus estudos era ela que não teve tempo de casar-se. Estava contente vendo as crianças aprendendo tantas maravilhas com ela, era como se fossem seus próprios filhos.
E os anos foram passando. Agora ela estava com mais de 60 anos, não faltava muito para se aposentar mas ela sempre separava um pouco do seu dinheirinho minguado para fazer cursos de atualização. Apaixonara-se pela computação e gostava de mostrar aos alunos as novidades, cheia de jovialidade no coração. Porém, seus cabelos haviam branqueado, andava com uma certa dificuldade devido a uma terrível artrose nos joelhos e estava cheia de rugas!
Não muito longe dali, Ana Brasilis, em um trabalho fotográfico na Barra da Lagoa, captou uma onda de angústia no ar. Percebeu que havia uma velhinha precisando ajuda. Parou tudo o que fazia, escondeu-se atrás de uma árvore e retirando um objeto estranho da bolsa bradou determinada: “Bengala Mágica, chama a vovó!”
A Profa. Gumercinda ainda tentava levantar-se quando foi gentilmente apoiada pelos braços carinhosos da Mega Vó. A ferida em sua cabeça era profunda e o sangue jorrava... foi preciso que a Mega Vó pegasse em sua Mega-Bolsa de Primeiros Socorros alguns curativos emergenciais. Os alunos ficaram paralisados com a aparição da super-velhinha que chegara voando pela janela da sala. Estavam de boca aberta olhando a Mega Vó sem acreditar no que viam.
Quando a Profa. Gumercinda foi devidamente encaminhada ao hospital pela Direção da escola a Mega Vó olhou o menino que fizera tal malvadeza. Defendendo-se ele explicou que ela não passava de uma velha, nem era mais para estar trabalhando.
‘E tu achas que vais ser criança a vida inteira, meu filho? Achas mesmo que será bom receberes uma pedrada na tua cabeça só porque tu terás 40 ou 50 anos?’ A voz bondosa da Mega Vó junto com seu poderoso Olhar do Arrependimento provocaram altas reflexões no menino. Ele pediu perdão e jurou de pés juntos que viraria mais um defensor dos velhinhos. Mas a Mega Vó antes de voar embora dali jogou suas infalíveis Lágrimas Transformadoras em todos os alunos que viram a Profa. Gumercinda sofrer e ficaram só gargalhando em vez de ajudá-la. Depois deste evento todos eles transformaram-se nos melhores netos do mundo...
*Esta minha crônica da Mega Vó é publicada no jornal Cultur&Lazer em Florianópolis, SC.