Sentimento de culpa
A igreja estava cheia quando o Pastor Jonathas subiu ao altar. Parou ao lado do pastor adjunto e enquanto aguardava ser apresentado, tirou o paletó e o ajeitou sobre a cadeira. Um homem de meia idade, branco, forte, cabelo crespo avermelhado e rosto sardento.
- Meus amados... Disse o pastor adjunto - Tenho a honra de apresentar o Pastor Jonathas, um servo missionário, peagadê em teologia e psicologia e veio de longe pregar sobre cura interior.
Enquanto a igreja aplaudia, o adjunto se retirou e o Pastor colocou a Bíblia sobre o púlpito, aberta no livro de Ezequiel.
Quando silenciou, ele disse:
- Irmãos... Hoje vou falar sobre o sentimento de culpa.
Ao anunciar o tema, a igreja sentiu a presença do Espírito Santo, um movimento invisível, agradável se fez entre os fiéis e houve um murmurinho de glórias e amém espontâneo.
Dona Esther, sentada no canto da terceira fila, sentiu os olhos umedecerem e uma leve pressão na cabeça. Não entendeu por que, mas ficou descompensada. Durante anos sofria de depressão, vontade de sumir, pesadelos e acordava assustada.
- Amados... Vamos ler o livro de Ezequiel, capítulo 40, versículo 39, onde diz: - “No vestíbulo da porta havia duas mesas de uma banda, e duas mesas da outra, para degolar o holocausto e o sacrifício pelo pecado e pela culpa”.
Ao terminar, fechou os olhos e orou. A igreja sentiu mais forte a presença de Deus e regozijava com glórias e aleluias, quando ele voltou a falar:
- Meus irmãos... Esses sacrifícios remontam há mais de dois mil anos e naquela época o povo sofria de culpa e o pecado já havia sido instituído. Como não existia confissionário, psicólogo, gabinete pastoral e os haloperidóis, sacrificavam animais na ilusão de abrandar a ira de Deus e aliviar suas culpas e pecados. Hoje, ainda pela ignorância, sacrificamos a nós mesmos... E de que forma? Com depressão, tristeza, desânimo, mal-estar e o pior: sem lembranças das causas, recalcadas no fundo de nossas almas. Infelizmente irmãos, para tristeza do Senhor, tem gente aqui em holocausto, só que, ao invés de sangue, somatiza doenças.
As lágrimas de dona Esther desciam aos borbotões, lembranças do passado surgiam carregadas de emoção.
O Pastor sentia a presença do anjo do Senhor e tinha certeza que ali alguém precisava de ajuda.
- Meus irmãos... Depois de tantos anos ainda o povo de Deus sofre com a culpa, um sentimento nocivo, avassalador, destruidor, alimento do diabo para nos acusar, sofrer e afastar da presença de Deus. E por que ele faz isso? Porque sabe que guardamos no fundo de nossas almas as coisas que nos causam vergonha e dor! Sim irmãos... Quantos já ouviram, em suas mentes, ele dizer:
- Você não merece estar na presença de Deus! Por que não se mata? Ou você traiu seu marido!
Ao ouvir isso, dona Esther deu um grito, não conseguiu se controlar, muito emocionada ficou de pé e em voz alta pediu perdão a Deus, depois se ajoelhou aos pés do marido e confessou-lhe sua traição, quando “era do mundo”.
A igreja estava perplexa e assistia algo inusitado. Dona Esther era líder das mulheres santas das missões, exemplo de dignidade, de moral a ser seguido. Mas o que eles não sabiam é que ela sempre fora dissimulada, escondida nos versículos e longas orações. Mas naquele momento sentia-se forte, seu coração se alegrara, a depressão sumira e não tinha vergonha de se expor.
Pastor Jonathas carinhosamente a convidou subir ao altar, perguntou se gostaria de falar sobre seus pecados e ela, com o poder que vinha do Espírito, subiu, confessou suas fraquezas, louvou ao Senhor, falou em línguas e, com um glória a Deus, ergueu os braços ao céu e disse bem alto:
- Senhor! Aceita-me como eu sou!