Historieta da 1ª Républica Portuguesa ( à minha maneira) - Parte IV
A 5 de Outubro de 1910 estava instaurada a República em Lisboa. Ao resto do país chegou por telégrafo como fora previsto por João Chagas, um dos notáveis do partido agora no poder. E povo? Como se comportou perante a mudança do regime?
Primeiro festejou junto à varanda do município quando do anúncio dos membros do governo provisório. A palavra República ficara associada a fraternidade e progresso. Foi esse o trabalho dos excelentes oradores republicanos durante o tempo da “Propaganda”. Os últimos tempos da Monarquia serviram para que o partido republicano pudesse “vender o seu peixe”. O povo vivia mal. A vida era dura. Os reis gastavam à tripa forra e depois não havia dinheiro para nada. Mudara-se o regime. Logo a vida haveria de ser melhor. Radicalmente melhor. Por isso se bateram no dia 4 e 5 de Outubro apoiando um ou outro conspirador como Machado Santos. Agora era tempo de festejar, pois então.
Nem só de “vivas” vivem as revoluções. O povo estava armado. E tinha acumulado ódios. Durante cinco dias, enquanto o Partido Republicano Português (PRP) tomava conta da máquina do estado, os humildes tomaram conta das ruas, causando distúrbios vários.
Por um lado atacaram os políticos mais odiados do antigo regime. José Luciano era um velhote paralítico que sentado numa cadeira era o supra sumo dos jogos parlamentares monárquicos. Um grupo de Carbonários assaltou-lhe a casa e não teve pejo em chegar-lhe a roupa ao pêlo... António José de Almeida, ídolo do povo, teve de intervir, o que lhe pode ter salvo a vida. Semelhantes ataques aconteceram a meia dúzia de políticos mas a maioria dos monárquicos foi deixada em paz.
A impressa que apoiara a Monarquia durante anos, além de ter achincalhado o nome dos republicanos adorados pela população, incitava o governo a usar a força contra a “ canalha”. Ora a “canalha” tinha agora as pistolas e granadazinhas. Parte dos jornais monárquicos fecharam. Outros declaram-se republicanos dos sete costados...desde a primeira hora, literalmente. E os dois que ingenuamente continuaram a publicar “ normalmente”, o “Liberal” e o “ Portugal” foram saqueados e destruídos no dia 10 de Outubro.
O alvo principal das massas no pós 5 de Outubro foi a “padralhada”. O cidadão comum considerava que o maior empecilho ao progresso das “luzes” e da liberdade era a Igreja católica. Houve espancamentos de padres, assaltos a conventos, ataques a freiras, o diabo a sete!
Mais grave foi o assassinato, ainda no dia 4, em Arroios, do Padre Bernardino Barros Gomes após ter sido sujeito a requintes de malvadez pela multidão em fúria. Também o confessor da Rainha, Alfred Fargues foi eliminado a tiro.
Começaram a surgir rumores que os padres teriam armas escondidas em conventos. Quando após os assaltos e saques não encontraram nada os grupos armados preparavam-se para invadir as casas particulares que supostamente colaborariam com os membros da igreja.
Eusébio Leão, o Governador Civil de Lisboa, vinha desde o dia 5, fazendo angustiados apelos à calma das populações. Sem grande sucesso.
No dia 7 foi mais enérgico: “ A casa do cidadão é inviolável, ninguém, sem autorização especial, pode forçar o domicílio de quem quer que seja. A contravenção deste preceito será rigorosamente punida. As autoridades competentes estão procedendo com segurança e energia para resolver a questão religiosa.”
O povo estava temporariamente surdo.
Afonso Costa para cortar o mal pela raiz mandou prender todos os padres que andassem pelas ruas para evitar males maiores.
Por outro lado não houve ataques organizados à propriedade. Muito pelo contrário. Desde o inicio da revolta que trabalhadores revolucionários guardavam fielmente, bancos, lojas e armazens da burguesia. E parece que as fotografias dos pobres a guardar o dinheiro dos ricos ficaram tão vivas na memória colectiva que esta permaneceu como a autêntica imagem da revolução.
Agora era tempo dos governantes republicanos mostrarem ao povo que as suas palavras eram sinceras. Haviam prometido o sonho. O povo em breve começaria a cobrar o sonho.
Os governantes negavam porém que tivessem prometido “O bacalhau a pataco”!
Mas não era isso que tinham vindo a prometer desde os tempos de luta contra a Monarquia? Igualdade? Pois o que seria então a igualdade senão a mesma boa paparoca à hora do almoço? Bacalhau a pataco sim. E para já, reclamaram os trabalhadores. Se tinham visto cair o Rei, render-se o Exército, porque haveriam de resistir os patrões?
E sonhando com o “bacalhau à Brás”, “à Zé do Pipo”, “à Lagareiro” e porque não, “Com Todos”, foram tratando de entrar em greve. Nos últimos dias de Outubro de 1910 deram-se 21 greves; em Novembro, 48 e em Dezembro 26. Os anos seguintes não foram muito diferentes.
Os dirigentes Republicanos cedo se aperceberam que era muito mais fácil convencer o Povo a aderir à revolta do que acalma-lo...
A vida nas cidades tornou-se caótica. A prática política descia ao mais baixo nível. No parlamento os deputados insultavam-se e andavam ao soco pelos corredores (como teria sucesso o Canal Parlamento nesta época...).
A imprensa era o reflexo dos políticos, ordinária e sem pudor atacava tudo e todos. Todos os dias os jornais insultavam os governantes.
Segundo Vasco Pulido Valente, Camacho era descrito como um “ monstro”, “ um sapo nojento” e entre outros mimos dizia-se que “ tirava burriés do nariz”, “ não lavava os pés” e “tinha aversão a banheiras e sabonetes”. Nenhum dirigente da nação escapava. Aquilo é que foi liberdade de imprensa!
Mas afinal qual foi a actuação do Governo Provisório da República?
A 5 de Outubro de 1910 estava instaurada a República em Lisboa. Ao resto do país chegou por telégrafo como fora previsto por João Chagas, um dos notáveis do partido agora no poder. E povo? Como se comportou perante a mudança do regime?
Primeiro festejou junto à varanda do município quando do anúncio dos membros do governo provisório. A palavra República ficara associada a fraternidade e progresso. Foi esse o trabalho dos excelentes oradores republicanos durante o tempo da “Propaganda”. Os últimos tempos da Monarquia serviram para que o partido republicano pudesse “vender o seu peixe”. O povo vivia mal. A vida era dura. Os reis gastavam à tripa forra e depois não havia dinheiro para nada. Mudara-se o regime. Logo a vida haveria de ser melhor. Radicalmente melhor. Por isso se bateram no dia 4 e 5 de Outubro apoiando um ou outro conspirador como Machado Santos. Agora era tempo de festejar, pois então.
Nem só de “vivas” vivem as revoluções. O povo estava armado. E tinha acumulado ódios. Durante cinco dias, enquanto o Partido Republicano Português (PRP) tomava conta da máquina do estado, os humildes tomaram conta das ruas, causando distúrbios vários.
Por um lado atacaram os políticos mais odiados do antigo regime. José Luciano era um velhote paralítico que sentado numa cadeira era o supra sumo dos jogos parlamentares monárquicos. Um grupo de Carbonários assaltou-lhe a casa e não teve pejo em chegar-lhe a roupa ao pêlo... António José de Almeida, ídolo do povo, teve de intervir, o que lhe pode ter salvo a vida. Semelhantes ataques aconteceram a meia dúzia de políticos mas a maioria dos monárquicos foi deixada em paz.
A impressa que apoiara a Monarquia durante anos, além de ter achincalhado o nome dos republicanos adorados pela população, incitava o governo a usar a força contra a “ canalha”. Ora a “canalha” tinha agora as pistolas e granadazinhas. Parte dos jornais monárquicos fecharam. Outros declaram-se republicanos dos sete costados...desde a primeira hora, literalmente. E os dois que ingenuamente continuaram a publicar “ normalmente”, o “Liberal” e o “ Portugal” foram saqueados e destruídos no dia 10 de Outubro.
O alvo principal das massas no pós 5 de Outubro foi a “padralhada”. O cidadão comum considerava que o maior empecilho ao progresso das “luzes” e da liberdade era a Igreja católica. Houve espancamentos de padres, assaltos a conventos, ataques a freiras, o diabo a sete!
Mais grave foi o assassinato, ainda no dia 4, em Arroios, do Padre Bernardino Barros Gomes após ter sido sujeito a requintes de malvadez pela multidão em fúria. Também o confessor da Rainha, Alfred Fargues foi eliminado a tiro.
Começaram a surgir rumores que os padres teriam armas escondidas em conventos. Quando após os assaltos e saques não encontraram nada os grupos armados preparavam-se para invadir as casas particulares que supostamente colaborariam com os membros da igreja.
Eusébio Leão, o Governador Civil de Lisboa, vinha desde o dia 5, fazendo angustiados apelos à calma das populações. Sem grande sucesso.
No dia 7 foi mais enérgico: “ A casa do cidadão é inviolável, ninguém, sem autorização especial, pode forçar o domicílio de quem quer que seja. A contravenção deste preceito será rigorosamente punida. As autoridades competentes estão procedendo com segurança e energia para resolver a questão religiosa.”
O povo estava temporariamente surdo.
Afonso Costa para cortar o mal pela raiz mandou prender todos os padres que andassem pelas ruas para evitar males maiores.
Por outro lado não houve ataques organizados à propriedade. Muito pelo contrário. Desde o inicio da revolta que trabalhadores revolucionários guardavam fielmente, bancos, lojas e armazens da burguesia. E parece que as fotografias dos pobres a guardar o dinheiro dos ricos ficaram tão vivas na memória colectiva que esta permaneceu como a autêntica imagem da revolução.
Agora era tempo dos governantes republicanos mostrarem ao povo que as suas palavras eram sinceras. Haviam prometido o sonho. O povo em breve começaria a cobrar o sonho.
Os governantes negavam porém que tivessem prometido “O bacalhau a pataco”!
Mas não era isso que tinham vindo a prometer desde os tempos de luta contra a Monarquia? Igualdade? Pois o que seria então a igualdade senão a mesma boa paparoca à hora do almoço? Bacalhau a pataco sim. E para já, reclamaram os trabalhadores. Se tinham visto cair o Rei, render-se o Exército, porque haveriam de resistir os patrões?
E sonhando com o “bacalhau à Brás”, “à Zé do Pipo”, “à Lagareiro” e porque não, “Com Todos”, foram tratando de entrar em greve. Nos últimos dias de Outubro de 1910 deram-se 21 greves; em Novembro, 48 e em Dezembro 26. Os anos seguintes não foram muito diferentes.
Os dirigentes Republicanos cedo se aperceberam que era muito mais fácil convencer o Povo a aderir à revolta do que acalma-lo...
A vida nas cidades tornou-se caótica. A prática política descia ao mais baixo nível. No parlamento os deputados insultavam-se e andavam ao soco pelos corredores (como teria sucesso o Canal Parlamento nesta época...).
A imprensa era o reflexo dos políticos, ordinária e sem pudor atacava tudo e todos. Todos os dias os jornais insultavam os governantes.
Segundo Vasco Pulido Valente, Camacho era descrito como um “ monstro”, “ um sapo nojento” e entre outros mimos dizia-se que “ tirava burriés do nariz”, “ não lavava os pés” e “tinha aversão a banheiras e sabonetes”. Nenhum dirigente da nação escapava. Aquilo é que foi liberdade de imprensa!
Mas afinal qual foi a actuação do Governo Provisório da República?