A Arte de ser Feliz!



São onze horas da manhã. Depois de cuidar de alguns afazeres, desses que parecem que não tem fim, fui fazer a nenezinha dormir. Não que eu quisesse, mas ele pediu: mimi, mimi! Peguei a peque nina no colo e já foi tirando o tênias, a meia, e tornou a repetir: mimi, mimi, desta vez apontando para o quarto. Levei-a para a cama, coloquei-a confortavelmente coberta, acariciei-a até que ele dormisse o que não foi difícil. E, agora estou aqui, ouvindo a panela de pressão, , ouvindo os ruídos do prédio, as marteladas das reformas dos apartamentos, como do prédio...Apesar da azáfama geral, está tudo tranqüilo e, eu sem nenhuma vontade de voltar aos afazeres . Acredita! Era para eu adiantar tudo enquanto ela dorme...Dar aquela geral na casa...sair correndo fazendo tudo tão rápido que o ar chega a me faltar...Mas, não!

Nesse desmaio acordado que tive, nessa lassidão na manhã chuvosa, sentei no sofá, estiquei as pernas ( muito cedo para estar cansada) e, abri um livro de Cecília Meireles, a incrível. Dei de frente com um poema: A Arte de ser Feliz! Caramba! Será que eu precisava desse momento desse silêncio, dessa tranqüilidade, desse momento só meu?

No poema fala das coisas simples do diariamente das pessoas sob um enfoque tão generoso que é impossível você não olhar à sua volta reparando em alguns detalhes que são invisíveis na correria que temos e eu especificamente falando (tenho que fazer ou, já ter feito a refeição da nenê que vai acordar e do “nenê” que vai chegar da escola e, espero que não venha faminto), pois estou aqui escrevendo este texto e com enorme vontade de escrever e, daí deixou tudo, depois que eu corra.

Agora quero ser feliz, embora eu seja por demais felizes no meu... Diariamente que às vezes é árido, pois mal me olho... Voltei –me para a janela, aberta. Levantei-me e fechei-a. Tornei a abri-la, com calma, observando tudo que estava ao meu alcance, sentindo o cheiro do mato, das pedras, do entulho dos apartamentos esperando ser retirado... o gato do vizinho do apartamento abaixo, que me olhava assustado...escutei a furadeira reclamando do concreto que a obrigava a um esforço maior...da marretada que o pedreiro dava na parede para derrubar alguma coisa para transformar o ambiente em outro... Escutei o ressonar da Maria Júlia no quarto que não se incomodava com o barulho e dormia feito um anjo...

Voltei ao sofá, desta vez tranqüilamente mais calma, com menos culpa pelo atraso das tarefas. Olhei minhas plantas domésticas tão lindas, tão verdes... Não precisam de aspersão, têm sempre água em suas raízes... Troco a água uma vez por semana... será que basta? Mas elas estão verdes e crescendo apesar do lugar... pequeno, apertado e sufocante, levando a vida e nos dando a vida com seu oxigênio...apesar de às vezes eu esquecê-la...

E estas pequenas felicidades, diárias é que nos fazem felizes, me faz feliz... Eu me larguei na contemplação movida por uma preguiça momentânea em que peguei um livro ao acaso e me confrontei comigo mesma... Sou feliz seguindo o meu destino, no meu lugar... cada coisa está trabalhando, e movimentando para o meu bem estar e, que devo fazer a minha parte sendo feliz e agradecida...
Cecília Meireles tem esse poder de introspecção, de fazer com que a nossa viagem ao eu, tenha um significado ou uma resignificação da vida. Estou em paz. Ela me deixou em paz. Agora é hora tirar os pés do sofá, correr para a panela, antes que ela queime o seu conteúdo. E ai a mim me queime com os netos... o tempo é curto e meio dia ( macaco assobia...barriga vazia) pois a dona da casa simplesmente parou...Espreguiço-me, estico-me e lá vou eu para os afazeres e que Deus nos abençoe por termos a possibilidade de pensar e rever, de reaver o que perdemos. A observação da Vida que pulsa diante de nós... de todo dia!

MVA
Enviado por MVA em 17/11/2008
Código do texto: T1288080
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