Noticia em primeira mão!
Noticia em primeira mão!
A tarde estava ensolarada e a quentura aumentava a preguiça. Eu só pretendia descansar um pouco ao lançar-me naquela cama. Minutos depois eu levantava toda molhada de suor e totalmente convencida de que aquela não teria sido uma boa idéia. _tomar um banho demorado, estourar pipocas e ver TV, acionadas nessa ordem, me faria um bem danado!
A TV já estava ligada e a pipoca, muito convidativa, cheirava deliciosa numa tigela de vidro. _Isso sim que é vidão! O frescor do banho e o relaxamento que aquele estofado bem aconchegado me causara, devolvia-me a sonolência perdida devido ao calor intenso.
Eu caminhava dispersa por uma estrada de barro, cercada de árvores que exalavam perfume de flores múltiplas. O vento forte embalava meus passos e eu podia flutuar. Sentia meus cabelos acariciarem meu rosto me arremetendo a uma tranqüilidade inexplicável. Minutos depois estava sendo arrancada daquele mundo perfeito por vários estampidos. Abri os olhos completamente assustada e percebi tristemente: era apenas um sonho. A realidade estava diante de mim, através do aparelho de TV. O jornal da globo, em edição extra ordinária, transmitia ao vivo, um extermínio. O local era um ponto de ônibus, onde havia uma grande concentração de pessoas. Fato esse que não intimidou a ação dos bandidos, os quais se aproximando de uma senhora de aparentemente sessenta e cinco anos, dispararam uma calibre doze em sua cabeça. _Meu Deus! O desespero tomou conta do lugar e as reações eram adversas! Gritos por todo o quarteirão! Epa! Eu conheço esse lugar! Sai desesperadamente do sofá e fui até a janela do meu apartamento... O João, meu vizinho do setenta e oito, corria como um condenado! Estaria ele na lista negra dos exterminadores? O tumulto estava formado a poucos metros da minha janela. Meus olhos não me negaram uma cena que jamais vou esquecer: o vovô Florêncio de cócoras e calças arriadas, jogando seu barrão pra fora em pleno centro da escarcéu criminal. Todo mundo tem o direito de reagir como convém ao seu sistema nervoso; eu acho! Mas daí a dar todo o aparato a essa reação? Deixar escorrer a merda pelas pernas é normal! Se cagar? Quem não se cagaria numa situação dessa, que atire a primeira pedra! Porem, com a diplomacia do vô Florêncio, isso eu quero é ver de novo! Não vou negar que por segundos, fui contagiada por uma imensa vontade de rir.
Desliguei a televisão e voltei à janela. As sirenes se fundiam deixando no ar um som brusco, me submetendo a vários pensamentos de indignação. Um vermelho carmesim, luzia em contato com a luz do sol. Era sangue na calçada!
A noite caiu e eu ali, como uma atalaia, debruçada na janela, me certificando que a paz voltaria logo a minha rua. Adormeci.
Zanna Santos
23 de out 08