Máscaras
Nunca havia pensado que pudesse haver tantos tipos de rostos diferentes.
Fui às ruas, como um recenseador, a fim de catalogar e registrar os mais diversos semblantes; na tentativa de cruzar informações faciais com as expressões intrínsecas à velocidade empreendida nos olhares. Experiência, deveras interessante...
Vi homens com rosto preocupado e olhar sisudo, testa enrugada como tentassem encontrar a solução do insolúvel. Porém, ao depararem-se com traseiros rijos e arredondados, apertados em jeans que permitiam desenharem-se as mais variadas lingeries, repentinamente, transmutavam-se em sorrisos safados e olhares cheios de maldosas intenções.
Também circulavam mulheres que, a princípio tão recatadas e educadas, ao encontrarem-se com outras, passavam a tricotear e enxovalhar a vida alheia...
O marido sincero e honesto para sua família, encontra-se com a esposa fiel de seu melhor amigo e, após alguns minutos de conversa, discretamente entram pela portinha “vaivém” do prédio onde estava escrito “Hotel”.
E, na praça, o pipoqueiro tão bonzinho com seus fregueses de todas as tardes, negava as pipocas murchas do dia anterior, e por não terem sido vendidas, aos menores de rua.
O marginal batedor de carteiras dos mais apressados e desatentos alimentava os pombos e sorria como uma criança inocente com a revoada que se fazia.
A prostituta e o travesti destilando venenosamente elogios mútuos em luta velada, mas aguerrida, disputavam a troco de charme sem conta os escassos clientes.
Os sinos da Igreja Matriz anunciam o início da próxima missa e, os fiéis em bandos vão chegando de todos os lados; enquanto que nos toscos degraus da ermida o mendigo e cego, invisível para muitos dos que por ali galgavam, escutava míseros tilintares das poucas moedas que caíam em sua “cuia” surrada. O sermão de esperança para os rejeitados proferido pelo vigário, baseava-se em Bartimeu, o cego de Jericó que queria ver Jesus. Chorei... Lastimei... Percebi que existem ainda, aos montes, muitos “Cegos de Jericó”.
Voltei para minha casa e, em frente ao espelho, passei a enxergar com meus próprios olhos o que jamais pude ver: Máscaras... Todos as temos...
Rio, 29/02/96.
Nunca havia pensado que pudesse haver tantos tipos de rostos diferentes.
Fui às ruas, como um recenseador, a fim de catalogar e registrar os mais diversos semblantes; na tentativa de cruzar informações faciais com as expressões intrínsecas à velocidade empreendida nos olhares. Experiência, deveras interessante...
Vi homens com rosto preocupado e olhar sisudo, testa enrugada como tentassem encontrar a solução do insolúvel. Porém, ao depararem-se com traseiros rijos e arredondados, apertados em jeans que permitiam desenharem-se as mais variadas lingeries, repentinamente, transmutavam-se em sorrisos safados e olhares cheios de maldosas intenções.
Também circulavam mulheres que, a princípio tão recatadas e educadas, ao encontrarem-se com outras, passavam a tricotear e enxovalhar a vida alheia...
O marido sincero e honesto para sua família, encontra-se com a esposa fiel de seu melhor amigo e, após alguns minutos de conversa, discretamente entram pela portinha “vaivém” do prédio onde estava escrito “Hotel”.
E, na praça, o pipoqueiro tão bonzinho com seus fregueses de todas as tardes, negava as pipocas murchas do dia anterior, e por não terem sido vendidas, aos menores de rua.
O marginal batedor de carteiras dos mais apressados e desatentos alimentava os pombos e sorria como uma criança inocente com a revoada que se fazia.
A prostituta e o travesti destilando venenosamente elogios mútuos em luta velada, mas aguerrida, disputavam a troco de charme sem conta os escassos clientes.
Os sinos da Igreja Matriz anunciam o início da próxima missa e, os fiéis em bandos vão chegando de todos os lados; enquanto que nos toscos degraus da ermida o mendigo e cego, invisível para muitos dos que por ali galgavam, escutava míseros tilintares das poucas moedas que caíam em sua “cuia” surrada. O sermão de esperança para os rejeitados proferido pelo vigário, baseava-se em Bartimeu, o cego de Jericó que queria ver Jesus. Chorei... Lastimei... Percebi que existem ainda, aos montes, muitos “Cegos de Jericó”.
Voltei para minha casa e, em frente ao espelho, passei a enxergar com meus próprios olhos o que jamais pude ver: Máscaras... Todos as temos...
Rio, 29/02/96.