DEIXA EU FALAR! DEIXA EU FALAR!!!
DEIXA EU FALAR! DEIXA EU FALAR!!!
Marília L. Paixão
Sabe quando lemos coisas que nos fazem coçar os dedos? E quando escutamos coisas?! Pois é! Eu já tinha escutado e passaram-se uns dias e agora fui ler... Meu Deus! Para que ler? Será que lemos para ficarmos com estes sintomas da escrita nos levando para o teclado? Vamos logo ao que interessa que assim como estou louca para escrever você vai gostar de ler. Começo pelo que ouvi ou pelo que li?! Anda logo Marília! Você sabe que de qualquer jeito que você começar dará certo! E o pior é que dá! RS...RS...
Bom, eu estava voltando da imobiliária onde pago feliz da silva o aluguel da casinha onde moro e sou feliz mesmo ela não sendo minha. E o que ouço no caminho?! Ouço uma voz de homem insistindo:
- Deixa eu falar! Deixa eu falar! Eu que nem sabia do que se tratava, pelo som da voz eu deixaria ele falar sim. Mesmo não sendo curiosa desejei descobrir de onde vinha aquela voz com aquele pedido. Do outro lado da rua vejo um rapaz moreno, boa aparência em cima da moto estacionada e sua voz cada vez mais exaltada ao celular - Me deixa falar! Deixa! Deixa!
Nesta altura eu já não ia querer mais ser a pessoa que de algum lugar não o estava deixando falar. Nem eu que estava na mesma rua ouvindo seus gritos não queria saber mais nada do papo. E ele já dizia: - Deixa eu falar, MERDA!!! E então eu pensei: Deixa eu correr antes que sobre para mim que estou ouvindo. E fui com minha imaginação pensando que se este cara estivesse lado a lado conversando com a pessoa já era dizendo: - Deixa eu te bater! Ou talvez nem pediria permissão e já bateria logo. Ouvi ele batendo o celular na moto antes de ligá-la. Aumentei rapidamente os meus passos.
Agora a pouco eu estava com a folha de São Paulo de ontem, domingo, nas mãos. O escritor americano Jonathan Franzen reclamando das pessoas que ficam falando "Eu te amo" no celular o tempo todo. O artigo tem o nome de AMOR SEM PUDOR. Ele descreve como o uso do celular modificou o espaço público e criou novas formas de sensibilidade. Realça também que o celular chegou à maioridade no 11 de setembro como canal de expressão de pessoas desesperadas.
E agora eu aqui Marilinha de nada da Paixão morrendo de vontade de falar para ele que é melhor as pessoas falarem o eu te amo a vontade sem ele se incomodar muito do que as pessoas ficarem gritando ameaças do tipo vou te matar através dele. Fora as mensagens de texto. Nem vamos falar dos crimes e dos códigos pelo celular que podem significar um sim para um roubo, um seqüestro ou um assassinato.
Agora o cara reclamar que não agüenta ficar ouvindo o outro ficar falando "eu te amo" no celular?! Por favor! Talvez eu ficasse incomodada se eu não tivesse nunca alguém que me falasse isto hora nenhuma. Talvez o problema dele fosse tédio e ele quis inventar uma reclamação diferente. E ficou dizendo que não deve ser um amor verdadeiro este falado por modismo ao celular para todo mundo ouvir. Mas depois ele acaba concordando que o mundo mudou depois do onze de setembro mesmo ele não tendo visto as imagens muito bem.
E ele termina o artigo dizendo que a ironia vazia e maléfica dos anos 90 morrera e que isto, a ironia não era mais possível e que eles tinham ingressado numa nova era da sinceridade. Menos mal! Já que ele fechou o artigo assim, não sobrou nada para eu falar.