DRUMMOND E OS BEATLES - OUTRA VEZ
OS OMBROS SUPORTAM O MUNDO?
Nelson Marzullo Tangerini
Sabendo de minha simpatia por Drummond e os Beatles, um leitor amigo me alertou sobre a idéia de eu juntar a canção Hey Jude, dos liverpuldianos Paul McCartney e John Lennon, com o poema Os ombros suportam o mundo, do poeta itabirano Carlos Drummond de Andrade.
Primeiramente devo falar de Atlas, aquele cidadão mitológico que, como castigo eterno, leva o globo em suas costas.
Encontrei algo rápido e rasteiro sobre o nosso herói no site http://pt.wikipedia.org/wiki/Atlas_(mitologia):
“Geralmente, Atlas é retratado sustentando um globo sobre os ombros. Esse fardo foi temporariamente aliviado por Hércales (Hércoles) durante um de seus 12 trabalhos, mas Atlas foi enganado e voltou a carregar os céus sobre os ombros.
Consistiu este episódio no seguinte: tinha Hércoles de apanhar algumas maçãs de ouro que nasciam no jardim das Hespérides (11o. trabalho). Alertado por outro titã (Prometeu) de que apenas Atlas poderia faze-lo impunemente, propôs a este que o fizesse, enquanto sustentava a abóboda celeste. Aliviado do grande peso, Atlas retorna, dizendo que ele mesmo faria a entrega das maçãs a Euristeu.
Percebendo o engodo, Hércoles finge aquiescer e, pretendendo colocar antes um anteparo sobre seus ombros, pede ao titã que sustente os céus por um momento – ao fazer isto, o herói parte, levando as maçãs, deixando a Atlas o seu eterno suplício.
Segundo uma das versões existentes, Atlas foi posteriormente libertado de seu fardo e tornou-se guardião dos Pilares de Hércules, sobre os quais os céus foram colocados, e que também eram a passagem para o lar oceânico de Atlântida (o Estréio de Gibraltar). Seu nome passou a significar “portador” ou “sofredor”. Outra versão conta que Perseu o petrificou mostrando-lhe a cabeça que havia arrancado da Medusa, transformando o titã Atlas no que hoje é o Monte Atlas”.
A expressão “carregar o mundo sobre os ombros” virou sinônimo de carregar todos os problemas sobre si.
Preocupado com o futuro de Julian Lennon, que se distanciava de seu pai, John, que trocava Cinthya Powell por Yoko Ono, Paul McCartney, que não conseguia engolir a japonesa, escreve a melodiosa canção ‘Hey Jude”, pedindo para que o jovem Lennon pegasse uma canção triste e a refizesse melhor - e não carregasse o mundo sobre seus ombros. Uma indireta para o pai, que se tornava um incendiário revolucionário?
Em “Os ombros suportam o mundo”, o agnóstico Drummond tem outro conselho para os Atlas de nosso tempo: acha que é inútil pedir ajuda a Deus. Na absoluta depuração, mostra o seu amadurecimento. É o fim do sentimentalismo romântico (“o sonho acabou”); a realidade se nos mostra presente e insensível. O frio e mineral poeta das Minas Gerais não abrirá mais portas nem para as mulheres, porque a esperança foi-se embora, esgotou-se. Assim, ele tornou-se forte, duro, orgulhoso, de ferro, capaz de suportar as adversidades da vida, o peso do globo.
“As guerras, as fomes, as discussões dentro de edifícios” provam que a vida e a história continuam e que os tolos, muitos, ainda não se deram conta disto.
Os que não suportam o bárbaro espetáculo, os românticos, os sentimentais, os delicados, preferem o escapismo: a morte - saída covarde para o tédio da vida.
Não, não adianta morrer. A vida é uma ordem. Escrever a história é uma ordem. Escrever é uma ordem. Escrever dá sal à vida. Devemos, pois, viver com moderação e sem mistificação.
Nelson Marzullo Tangerini, 53 anos, é escritor, jornalista, compositor, poeta, fotógrafo e professor de Língua Portuguesa e Literatura. É membro do Clube dos Escritores Piracicaba [ clube.escritores@uol.com.br ], onde ocupa a Cadeira 073 – Nestor Tangerini.
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