Historieta da 1ª República Portuguesa (à minha maneira) - Parte II
Quem salvou a República quando tudo parecia estar perdido?
Quem salvou a República foi a Monarquia. Pois foi. A Monarquia não teve quem a defendesse. Com excepção de Paiva Couceiro ninguém deu luta aos revoltosos.
D. Manuel na noite de 4 de Outubro não se deitou. Enquanto a luta se fazia na rotunda ele jogava brídege com oficiais e dignitários presentes. Foi Vasco Pulido Valente que me desvendou aquela atitude do jovem monarca: ele estava confiante na vitória! Pensava que tinha o exército do seu lado. Comentou até: “ Agora é que se lhe vão arrancar as orelhas.”.
Era muito novo e ingénuo e por ter andado a visitar quartéis atrás de quartéis e ter sido bem recebido por mera boa educação da parte dos militares achava que podia contar com eles em caso de revolta. Mas os militares estavam fartos. É ainda Vasco Pulido Valente que nos conta por palavras de Paiva Couceiro, “ o comportamento dos oficiais explica-se, sim, pela sua indiferença, aborrecimento e desconsolo com o curso dos negócios públicos, não pela sua incompetência.”
Também Raúl Rêgo dá voz ao republicano José Relvas para defender a mesma tese: “ porque se o sucessor do rei, em vez de ser uma criança fanatizada pela educação reaccionária duma rainha beata e estúpida, sem espírito de rainha e sem entranhas de mãe, fosse uma natureza aberta a nobres ideais, o advento da República ter-se-ia retardado por largos anos”.
O mesmo autor oferece-nos excertos de cartas que D. Manuel trocava com o seu confessor, o padre Alfredo Fragues: “eu pedir-vos-ia de ver e de me dizer quinta-feira quais são os livros de Dumas que eu posso ler e sobretudo se posso ler “ Memórias dum Médico José Bálsamo.”; “ Eu quero também confessar-me duma coisa. A rainha quer que eu fume muito pouco e tinha-me proibido que fumasse mais de três cigarros por dia e eu tinha-lho prometido, mas ontem nós passámos todo o dia fora, e eu fumei pelo menos uns vinte!”
Não deixa de ser uma ternura, este moço, mas para o futuro da Monarquia não foi muito útil que se tornasse dependente dos padres e da mamã (note-se que ainda não existiam os “Morangos com Açúcar”...).
A rainha D. Amélia não morria de amores por Portugal. Provavelmente partilhava da opinião do marido que dizia que Portugal era uma piolheira. Não que estivesse completamente fora de razão. Os regimes mudam mas os piolhos esses continuam, embora mais asseados, e cada vez mais resistentes.
Seria simplista dizer que a revolução de 5 de Outubro se deveu unicamente à passividade dos oficiais que tinham por dever defender o regime.
Houve luta. Houve mortos e feridos.
Quem salvou a República do 5 de Outubro foi o Povo e a pequena Burguesia.
Cândido dos Reis suicidara-se acreditando que os homens que estavam do seu lado o tinham abandonado. Não percebeu que a marinha estava com os republicanos. No fundo foi o pessimismo e dúvida em si mesmo que o derrotou. Teria sido o primeiro presidente da república portuguesa. Fez falta.
No 5 de Outubro apenas cinco oficiais revoltosos permaneceram no seu posto do princípio ao fim: Machado Santos, Tito Morais, Mendes Cabeçadas, José Carlos da Maia e Ladislau Parreira.
Machado Santos aguentou-se na rotunda apesar de ter descoberto tarde e a más horas que só tinha 14 espingardas. A distribuição das armas pelos dirigentes republicanos não correu bem. Eles não confiavam nos homens que tinham ligações à Carbonária. Adiaram a entrega das armas e depois correu mal.
É Vasco Pulido Valente que explica, o que o próprio Machado dos Santos relata, os homens da rotunda ficaram porque esperavam vencer. Sabiam, porque os tinham prévia e longamente aliciado, que os regimentos inimigos estavam minados por células da Carbonária. E contavam com o apoio dos grupos civis. Esse apoio foi crucial e determinante para a vitória. Foi o povo que engrossou as forças de Machado Santos na rotunda e apoiou os marinheiros do São Rafael. Foi a Carbonária, associação secreta de civis que impediu que as forças de Paiva Couceiro recebessem munições do depósito de Beirolas. O grupo de civis chefiado pelo enfermeiro Rodrigues fez mais estragos no exercito monárquico do que todas as outras forças revolucionárias.
Deveria existir algures uma rua em Lisboa chamada “ Rua Enfermeiro Rodrigues”...
Como explica o Vasco, as listas de mortos e feridos contam a verdadeira história da revolução: “ tirando as vítimas de assassínio ou acidente, houve 56 mortos civis contra 16 militares. Dos feridos, 122 eram militares (isto é, pertenciam à Polícia, à Guarda ou ao Exército) e 186 eram civis: e note-se que, ao contrário dos civis, quase todos os militares combatiam pela Monarquia.”
Entretanto D. Manuel foge para Mafra. As rainhas D. Amélia e D: Maria Pia que se encontravam em Sintra a ele se juntam. D. Maria Pia não queria deixar Portugal. Era a única monarca verdadeiramente acarinhada pelo país e a única que o realmente amava.
Raúl Rêgo descreve, ilustrando uma bela foto, que na Ericeira , na Praia dos Pescadores, dia 5, à tarde, o rei as rainhas e restantes acompanhantes, vindos de Mafra, dirigem-se para os barcos que os hão-de levar ao exílio. De quantos partiram, da família real, em vida, só D. Amélia voltará a pisar terra portuguesa, convidada por Oliveira Salazar, de quem se mostrou sempre partidária.
Na hora da partida D. Maria Pia de lágrimas nos olhos e apertando contra si um pão saloio exclama: “ Se o Carlos fosse vivo...”
Meses mais tarde, ao falecer na Itália, D. Maria Pia pediria para que lhe virassem o túmulo para Portugal.
E agora, República Portuguesa, quem será capaz de tomar conta de ti?
Quem salvou a República quando tudo parecia estar perdido?
Quem salvou a República foi a Monarquia. Pois foi. A Monarquia não teve quem a defendesse. Com excepção de Paiva Couceiro ninguém deu luta aos revoltosos.
D. Manuel na noite de 4 de Outubro não se deitou. Enquanto a luta se fazia na rotunda ele jogava brídege com oficiais e dignitários presentes. Foi Vasco Pulido Valente que me desvendou aquela atitude do jovem monarca: ele estava confiante na vitória! Pensava que tinha o exército do seu lado. Comentou até: “ Agora é que se lhe vão arrancar as orelhas.”.
Era muito novo e ingénuo e por ter andado a visitar quartéis atrás de quartéis e ter sido bem recebido por mera boa educação da parte dos militares achava que podia contar com eles em caso de revolta. Mas os militares estavam fartos. É ainda Vasco Pulido Valente que nos conta por palavras de Paiva Couceiro, “ o comportamento dos oficiais explica-se, sim, pela sua indiferença, aborrecimento e desconsolo com o curso dos negócios públicos, não pela sua incompetência.”
Também Raúl Rêgo dá voz ao republicano José Relvas para defender a mesma tese: “ porque se o sucessor do rei, em vez de ser uma criança fanatizada pela educação reaccionária duma rainha beata e estúpida, sem espírito de rainha e sem entranhas de mãe, fosse uma natureza aberta a nobres ideais, o advento da República ter-se-ia retardado por largos anos”.
O mesmo autor oferece-nos excertos de cartas que D. Manuel trocava com o seu confessor, o padre Alfredo Fragues: “eu pedir-vos-ia de ver e de me dizer quinta-feira quais são os livros de Dumas que eu posso ler e sobretudo se posso ler “ Memórias dum Médico José Bálsamo.”; “ Eu quero também confessar-me duma coisa. A rainha quer que eu fume muito pouco e tinha-me proibido que fumasse mais de três cigarros por dia e eu tinha-lho prometido, mas ontem nós passámos todo o dia fora, e eu fumei pelo menos uns vinte!”
Não deixa de ser uma ternura, este moço, mas para o futuro da Monarquia não foi muito útil que se tornasse dependente dos padres e da mamã (note-se que ainda não existiam os “Morangos com Açúcar”...).
A rainha D. Amélia não morria de amores por Portugal. Provavelmente partilhava da opinião do marido que dizia que Portugal era uma piolheira. Não que estivesse completamente fora de razão. Os regimes mudam mas os piolhos esses continuam, embora mais asseados, e cada vez mais resistentes.
Seria simplista dizer que a revolução de 5 de Outubro se deveu unicamente à passividade dos oficiais que tinham por dever defender o regime.
Houve luta. Houve mortos e feridos.
Quem salvou a República do 5 de Outubro foi o Povo e a pequena Burguesia.
Cândido dos Reis suicidara-se acreditando que os homens que estavam do seu lado o tinham abandonado. Não percebeu que a marinha estava com os republicanos. No fundo foi o pessimismo e dúvida em si mesmo que o derrotou. Teria sido o primeiro presidente da república portuguesa. Fez falta.
No 5 de Outubro apenas cinco oficiais revoltosos permaneceram no seu posto do princípio ao fim: Machado Santos, Tito Morais, Mendes Cabeçadas, José Carlos da Maia e Ladislau Parreira.
Machado Santos aguentou-se na rotunda apesar de ter descoberto tarde e a más horas que só tinha 14 espingardas. A distribuição das armas pelos dirigentes republicanos não correu bem. Eles não confiavam nos homens que tinham ligações à Carbonária. Adiaram a entrega das armas e depois correu mal.
É Vasco Pulido Valente que explica, o que o próprio Machado dos Santos relata, os homens da rotunda ficaram porque esperavam vencer. Sabiam, porque os tinham prévia e longamente aliciado, que os regimentos inimigos estavam minados por células da Carbonária. E contavam com o apoio dos grupos civis. Esse apoio foi crucial e determinante para a vitória. Foi o povo que engrossou as forças de Machado Santos na rotunda e apoiou os marinheiros do São Rafael. Foi a Carbonária, associação secreta de civis que impediu que as forças de Paiva Couceiro recebessem munições do depósito de Beirolas. O grupo de civis chefiado pelo enfermeiro Rodrigues fez mais estragos no exercito monárquico do que todas as outras forças revolucionárias.
Deveria existir algures uma rua em Lisboa chamada “ Rua Enfermeiro Rodrigues”...
Como explica o Vasco, as listas de mortos e feridos contam a verdadeira história da revolução: “ tirando as vítimas de assassínio ou acidente, houve 56 mortos civis contra 16 militares. Dos feridos, 122 eram militares (isto é, pertenciam à Polícia, à Guarda ou ao Exército) e 186 eram civis: e note-se que, ao contrário dos civis, quase todos os militares combatiam pela Monarquia.”
Entretanto D. Manuel foge para Mafra. As rainhas D. Amélia e D: Maria Pia que se encontravam em Sintra a ele se juntam. D. Maria Pia não queria deixar Portugal. Era a única monarca verdadeiramente acarinhada pelo país e a única que o realmente amava.
Raúl Rêgo descreve, ilustrando uma bela foto, que na Ericeira , na Praia dos Pescadores, dia 5, à tarde, o rei as rainhas e restantes acompanhantes, vindos de Mafra, dirigem-se para os barcos que os hão-de levar ao exílio. De quantos partiram, da família real, em vida, só D. Amélia voltará a pisar terra portuguesa, convidada por Oliveira Salazar, de quem se mostrou sempre partidária.
Na hora da partida D. Maria Pia de lágrimas nos olhos e apertando contra si um pão saloio exclama: “ Se o Carlos fosse vivo...”
Meses mais tarde, ao falecer na Itália, D. Maria Pia pediria para que lhe virassem o túmulo para Portugal.
E agora, República Portuguesa, quem será capaz de tomar conta de ti?