A garota do ônibus

Sabe aquela máxima que diz: o mundo dá voltas? Pois é, verdade é uma palavra reles pra enfatizar o significado dessa frase.

Ontem estava eu, voltando da faculdade no mesmo ônibus que eu tomo toda noite, com o mesmo motorista, com as mesmas pessoas. Tudo igual exceto por duas garotas que subiram na parada de um shopping e sua conversa altíssima (tem gente que fala tão alto que parece que apessoa que está ouvindo é surda) que não tive como não escutar. Talvez dai venha o significado da palavra "coletivo".

Estava tão cansada que nem olhei pra elas, apesar de não ter como não prestar atenção na conversa: aparentemente muito novinhas e falando de maneira casual sobre seus respectivos trabalhos, uma delas disse ter saido do seu há pouco mais de uma semana depois de trabalhar por uma mesma firma por quatro anos. Trabalhando agora no setor financeiro de uma grande empresa da minha cidade, esta garota recebe hoje um salário que faz parecer que o meu é mesada de papai no fim do mês.

Entre um cochilo e outro (acreditem eu consegui cochilar no ônibus com essas duas gritando) acordei pensando ter passado da minha parada, com um súbito silêncio. Entendi então que as "gasguitas" ( se você não conhece esta palavra, vem da minha terra: Ceará. Aqui gasguita é a pessoa que fala alto demais) tinham descido naquela parada, pouco perto da minha casa.

Por curiosidade resolvi me voltar para a rua e ver quem era a garota da tal firma que fazia meu salário ser gorjeta de garçom. Qual foi a minha surpresa quando, ao ver a garota, reconheci imediatamente. Daí a frase lá encima no topo deste texto.

Antes de ser costureira, meu atual trabalho, eu fui professora particular. Tinha a agenda lotada e vários alunos, principalmente no fim do ano (nenhum pai quer ver o filho reprovado né? Com os filhos de recuperação em seis matérias ou mais, eles querem que você faça milagres). Um desses meus alunos era uma garotinha que mal sabia fazer um "o" com uma cuia, de tão atrasada. Penei muito pra ensiná-la a ler corretamente, quando estava começando a fazer progresso com ela, sua mãe resolveu interromper as aulas, alegando ser a menina muito burra, que era desperdício de dinheiro pagar uma professora particular para ela.

Já sabe de que garota estou falando?

Pois é...

Kátia Santvs
Enviado por Kátia Santvs em 15/11/2008
Código do texto: T1284660