A CORTINA DE CASSA
 
        
         Interrompi a costura de cassa que estou fazendo para dar de aniversário para minha filha.  A cassa é um tecido de algodão muito delicado que antigamente era usado para roupas de bebê ou camisolas e roupas finas femininas. É um tecido lindo que, neste ano de 2008 voltou à moda embelezando os corpos femininos. Algo está acontecendo na cabeça dos estilistas que sacam a moda que está para vir acontecer. Eles estão fazendo umas camisas para as mulheres que lembram vestidinhos infantis, da minha infância, com botõezinhos, pregas, manguinhas curtas e fofas. As jovens atuais, com toda a liberdade sexual contrastam vestindo estas roupinhas delicadas e de sabor infantil, inocente e de pureza. Eu tinha esta antena no meu tempo de faculdade, eu usava roupas da moda antes que esta pegasse e se tornasse popular.
         Se a moda era saia comprida, eu mandava a costureira Maria, minha amiga, ou minha mãe fazer o que eu desenhava e saia compridona. Quando foi a mini-saia de Mary Quent, se não me engano, eu usava antes de todos e a mais curta expondo minhas belas pernas dos vinte anos. Esnobava e me orgulhava da minha beleza, aquilo era um prazer, ser bonita, ser jovem, rir e viver. Eu era vanguarda. Sem me dar conta.
         Visitando minha mãe em Petrópolis na Vidal de Negreiros, num fim de semana, estava sentada no balaustre largo da varanda enquanto conversávamos numa alegria relaxada e entre outros, ela sentada em descanso prazerosamente falando coisas da sua clínica e da vida. Fecho os olhos, vejo-a satisfeita nesta tarde boa, rara, rolando aquele sentimento geral ali, de tudo bem para todos, parecia impossível que um dia a nossa viria a ser ruim. Ela em dado momento interrompe sua fala, observando minhas coxas jovens como coisa surpreendente e exclama _ minha filha como suas pernas são roliças, não se espalham, que lindo... Porque as dela talvez já não tivessem a mesma firmeza... Ri, rimos.
         A cortina de cassa quase pronta, a mão neste contato de delicadeza do tecido mexeu com minha emoção e me surpreendi lembrando a dor sentida ao passar um corpo enrolado feito múmia, numa maca do Hospital Santa Tereza de Petrópolis, em direção à capela anexa ao hospital. Eu, achando que seria minha mãe tive uma dor enorme, uma dor que perdura até hoje, e não era minha mãe conforme fui saber em seguida, que já estava na capela funerária defronte do cemitério e para onde fui correndo. Minha mãe... Como ela era essencial para mim! Como eu a amava! Quanta admiração por ela! Como ela era uma força! Como é bom ter mãe...  
         Meu filho! Chamei meu filho que estava no computador... Saudade da minha mãe... Ele veio até mim e me deu apoio...
Mães e filhos... Questão eterna...
         Pois é, esse amor não termina.
 
         Mas volto à cortina de cassa para que fique pronta para a alegria da minha filha fazer seu quarto mais aconchegante, lá na Barra.
         Já antevejo o vento mexendo suave na cortina e sei como esse movimento faz surgir e espraiar o bem estar no ambiente.
         Parece aconchego, parece mão amiga...