Esteira rolante

Não sei explicar direito se eu estava em outra dimensão, outra vida, outro mundo ou se era um sonho, mas eu estava ali, olhando aquela estranha esteira rolante. Era muito parecida com essas que tem nas indústrias e sobre as quais os produtos vão deslizando entre os departamentos e seções de uma linha de produção, embalagens etc.

Essa esteira, no entanto tinha algumas diferenças, pois ela ficava toda num mesmo salão, um lugar bem grande. Não era uma esteira reta, mas sim com um formato sinuoso, como serpentina ou fila de banco, de forma que embora estivesse toda contida naquele espaço, se fosse esticada não caberia na sala.

Ao invés de produtos, havia pessoas em cima da esteira, a uma distancia que parecia regular, e seu pés estavam tão presos ao piso da esteira que pareciam fazer parte do mesmo. Ninguém podia tirar os pés do lugar, mas todos se movimentavam conforme a esteira andava, todo na mesma velocidade.

Curiosa, comecei a observar melhor as pessoas, e me dei conta que não eram todas iguais. O que estavam na parte que parecia inicial eram bebês, como que recém nascidos, conforme a esteira avançava eles iam se transformando em crianças pequenas, maiores, adultos, até chegar ao que seria o final da esteira, quando já tinham a aparência de pessoas bem idosas.

Além da esteira, havia outros mecanismos estranhos, com aspecto de alta tecnologia, além dos meus conhecimentos, notei esses dispositivos, porque percebi que havia alguns espaços sem pessoas, mas esses espaços não eram necessariamente originários do começo da esteira. Observando mais descobri o que acontecia: de vez em quando, um ou mais desses dispositivos se aproximavam da esteira, podendo ser de forma lenta ou de forma súbita, e destruíam uma ou mais pessoas, por isso havia as vagas sem pessoas. Observei também que no final da esteira, havia uma enorme concentração desses dispositivos, todos em ação, destruindo qualquer um que chegasse até lá.

Para minha surpresa, notei que as pessoas, ou pelo menos muitas delas, além de ter a visão de si mesmas e das pessoas mais próximas, podiam ver também as outras voltas e rodeios da esteira, observando os mais jovens e os mais velhos, o início e o final. Essas pessoas também viam os dispositivos atuando, logo imagino que tinham consciência de que estavam à mercê deles também, coisa que presumo porquê quando a aproximação de um dispositivo não era súbita, as pessoas que iam ser atingidas e até as vizinhas faziam expressões de horror com o rosto, e movimentos defensivos com os braços. Acho que todos sabiam de tudo.

A observcação que mais me impressionou, foi a de algumas pessoas que estava, no meio do percurso, elas riam, e riam muito. Aproximei-me para tentar escutar o que diziam. Uns estavam apontado para as voltas anteriores da esteira, fazendo chacotas e gozações maliciosas sobre a inexperiência, sobre a criancice dos mais jovens. Outros estavam fazendo chacotas e gozações e apontando para as voltas do final da esteira, se divertindo com a lentidão do reflexo dos mais idosos.

Não sei como consegui sair desse mundo, dimensão ou sonho, mas foi um enorme alívio. Torturava-me muito ver aquelas pessoas naquela condição trágica e igual para todos, e constatar sua estupidez em não perceber que vieram das voltas anteriores, e estavam indo inevitavelmente para as próximas. Não se deram conta de quem eram e de sua situação na esteira. Não percebiam que estavam rindo de si mesmas. Felizmente estou aqui agora, de volta ao mundo real.

Gaby Fada
Enviado por Gaby Fada em 14/11/2008
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