Emputecido

Não perturbe. Estava estampado na minha testa em Neon piscante! Meu olhar era frio e maligno como um assassino em série. Olhava a todos com desdém e raiva.

Acordei apertado para fazer xixi às 3 da matina. Voltei para a cama.

Às quatro o lazarento do gato miava como um desgraçado pedindo comida. Levantei-me de novo.

Às cinco, mijar de novo!?

O despertador toca às 5:30min.

Caminho quilômetros para pegar um coletivo mais vazio. Enfrentei seis, eu disse, seis filas para vir sentado. Uma hora e meia de viajem.

Com os fones de ouvido na Kiss FM adormeci. Uma lazarenta, tísica e biscate mulher foi segurar no encosto de cabeça do banco. Arranhou-me a cuca!

A putana nem desculpa pediu! Depois a maldita bolsa batia em mim todo o momento. A desgraçada no celular...

Adormeci novamente quando uma montanha banhosa quase líquida de tão flácida sentou-se do meu lado. A bexiga humana recheada com banha de porco gelada e viscosa que era o braço da infeliz roçou meu ombro. Que nojo! As coxas obesas espremiam-me a cada curva. A ratazana super desenvolvida não se segurava nas curvas ou era a sebosa banha que vinha para cima de mim involutariamente? A morfética não era jovem não, parecia na casa dos 55. Lazarenta!

Enfim desceu. Graças a Deus! Alguns minutos de paz!

Peguei o metrô. Sentei. Fumegava! Estava realmente puto. Emputecidíssimo!

Uma senhora negra e gordinha sentou-se na minha frente. Era rechonchudinha e usava uma bengala. Acompanhada por um casal, também idoso. Olhava para todos os lados. As bochechas inchavam ao sorrir. Vi ali uma certa graça. Observei-a.

- Nossa! Não dá tempo nem de entrar não...?!

O comentário espontâneo e sincero me fez rir.

A voz metálica do condutor anunciou a próxima estação.

- Vou me levantar senão eu não desço...

As bochechas negras, o ar engraçadinho, o jeito de falar, o timbre de voz.

Surpreendi-me sorrindo. O mal humor se foi.

Aquela senhora, com sua simpatia, espontaneidade e sinceridade iluminadas melhorou meu dia! Fez-me muito bem sem o saber. Ainda olhei-a quando descia. Ainda sorria.

Desemputecido.

Alex Holy Diver
Enviado por Alex Holy Diver em 14/11/2008
Reeditado em 02/05/2011
Código do texto: T1283030
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