ALEGORIA DA PALAVRA E O BEM-TE-VI

(em visita ao espaço presencial Simoniano, na 36ª Feira do Livro de Pelotas/RS)

Alados espíritos e Musas! A vida sempre nos reserva surpresas. Ora pelo bulício, ora pelos silêncios. Agora, fruindo os escaninhos espirituais, a 36ª Feira do Livro recende aos apelos da massa visitante, de autores e livreiros, alguns bobos-da-corte, os “clowns” que fazem a algaravia do momento. Honrado e agradecido, ficou em mim o gélido ferrete do acontecido, porque a tensão do orador esvaiu-se, cumprida a tarefa do falar em público sobre homens e história, nesta urdidura plástica em que o Livro é o mote. Palavras, palavras entre os jacarandás floridos, um bem-te-vi do papo amarelo pousou sobre o “Chafariz das Nereidas”, monumento central da Praça Coronel Pedro Osório, ali, bem no topo do penteado de ferro de uma das Musas. Neste momento, no rancho de João Simões Lopes Neto, não há nenhuma fornera, nada de sabiás ou bem-te-vis, mas há o silvo aberto das memórias: aprisiona-se o canto armorial das visitas, num livro aprisionado em vetustas gavetas, desde 1941. ... Estatelei-me frente ao inusitado da liberdade de voar. Estou preso à palavra, mas o alter ego patina na impotência dos registros. ... Em minha cabeça somente o canto do bem-te-vi. Seria esta a garganta dos alvoroçados livros?

– Do livro A BABA DAS VIVÊNCIAS, 2008/13.

http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/1282460