SALTO QUEBRADO (?)
O SALTO (?)
“A mulher não nasce feita: ela se faz mulher.”
- Simone de Beauvoir
... quando olhou para o relógio, já era próximo da meia noite.
Desligou o computador.
Um dia daqueles, curtos, com tantas coisas para se fazer, ansiedade do cão, corroendo cada pedacinho do seu estômago.
Deixou seus pensamentos e preocupações lá no pc, para ter um melhor aproveito da noite de sono.
“Como dividir o tempo entre o escritório e as infinitas idéias para os textos para logo serem digitalizados?” Vivia se perguntando.
Apagou.
Seis horas da manhã soa a música de abertura do Jô Soares.
“Vou matar minha filha por estar vendo TV uma hora dessa e ainda nessa altura.” Falou consigo tentando abri os olhos e lembrou que era o seu despertador.
Deu uma gargalhada e rapidamente mudou de humor.
Ao lavar o rosto, viu o quanto estava pálida e pior que isso, havia enormes olheiras. Parecia o urso panda.
“Nossa! Estou virando um unicórnio!” Disse espantada vendo aquela gigante espinha próximo ao nariz, junto ao olho direito.
“Culpa sua dona Denise. Pegou pesado com a pimenta, com o amendoim essa semana e ainda não descarregou sua ansiedade na corrida matinal.” Era sua mente gritando com ela.
Fez uma careta para o espelho, terminou de se trocar, colocou um mega óculos para esconder aquele tiranossauro rex do rosto e foi.
Voltou outra para casa.
Tomou um chá, comeu umas fatias de manga e subiu para tomar uma ducha fria.
Era tudo o que precisava para arriscar ir de salto ‘12’ para o trabalho.
“Suzi! Ganhei de você hoje!” Lembrou de um comentário da amiga sobre o salto ‘8’ que ela havia usado uma vez.
Saiu toda perfumada, deixando rastros pela rua.
Resolveu pegar até outro atalho, já que o quê ela costumava ir era muito cheio de buracos e para evitar de andar feio, pois ela não era muito de usar sapato alto com freqüência.
Não tinha um que não a reparava.
“Como é bom se arrumar um pouquinho de vez em quando!” Pensou enchendo o peito de orgulho por ter se tornado uma mulher independente, comunicativa e agradável.
CRACK
Quebrou o salto.
Olhou para o lado e para o outro, segurou para não rir de si mesma e não conseguiu pensar em nada naquele segundo.
Quebrou o outro salto.
“Agora está melhor.” Pensou dando gargalhadas.
“Eu estava indo de scarpin e agora estou de sapatilhas.”
Continuou linda e fina, louca para chegar ao serviço e contar para sua chefe, que com certeza iria rir horrores.
“O que teria sido de mim sem ‘O pique de Nova York?’ Se perguntou lembrando de uma cena parecida.
“Teria ido descalça de volta para casa.”