O que não aprendi

Não aprendi a ficar quieta, mas também não aprendi a responder.

Não aprendi a falar baixo, nem a falar pouco, nem tampouco ser baixa ao falar.

Não aprendi a chorar sem fazer barulho, nem a rir por dentro.

Não aprendi a fazer feijão, nem arroz sem grudar na panela. Não aprendi a dormir muito, nem a cochilar um pouco.

Não aprendi a sonhar pouco, não aprendi a ter pesadelos

Não sei o que é indiferença, nem melancolia, nem ódio.

Se eu aprendi, já esqueci.

Também não faço idéia do que é mágoa, se já me ensinaram o que é, aposto que não dei a mínima.

Não aprendi a esquecer as pessoas que me importam.

Não aprendi a fingir que esqueci.

Não aprendi a esquecer quem não me importa.

Não aprendi a não me importar com alguém, ou com ninguém. Sei lá o que é mal humor.

Não aprendi a ser sozinha, nem estar, nem ficar.

Eu não sei o que é escravidão.

Eu não sei o que é azar.

Não lembro bem o que é pecado.

E me apagaram muitas coisas da memória.

E eu também não aprendi a ficar remoendo o passado.

Eu não aprendi muita coisa.

Muita

Iaiá Correia
Enviado por Iaiá Correia em 24/03/2006
Reeditado em 25/04/2006
Código do texto: T128000