GÖREME - TURQUIA
GÖREME
Eram quatro e meia da manhã quando acordamos, para a grande programação do dia. Embora a expectativa e ansiedade fossem grandes, guardávamos, para nós mesmos, as emoções. Não havia vontade de partilhar os sentimentos, porque eu não encontraria as palavras certas. Nos vestimos em silêncio e coloquei o meu casaco mais quente. Não sei se o friozinho que sentia, era somente na boca do estômago, ou se a temperatura matutina, no começo de outubro, tomava conta do meu corpo inteiro. Descemos, para um leve café da manhã, no restaurante vazio do hotel. Não consegui engolir nada além dos meus remédios diários, acompanhados pelo o mínimo de água necessária. Logo uma caminhonete da companhia de turismo veio buscar o meu grupo, formado por cinco bravas mulheres. Entramos em silêncio. Agora, a noite escura estava dando lugar a um céu amarelo-róseo, no lado leste, com o nascer do sol. O motorista dirigiu por uns quinze minutos até o próximo hotel e recebeu mais dois casais que iriam conosco. Mais um certo tempo e chegamos ao nosso destino. Aí, a animação, a excitação da aventura tomavam conta das pessoas e dos funcionários, que tentavam organizar o programa. Pediram-nos para preencher uma ficha com o nosso nome em letra de forma, bem legível. Levaram-nos para o nosso destino. Eu caminhava em silêncio, com os olhos no chão, dizendo-me que, a razão desse gesto, era para não tropeçar na irregularidade do terreno. Não queria cair nem torcer o meu pé. Pensei: o que estou sentindo? Estou com medo? Confio nos profissionais de longa data que fazem isso todos os dias, há anos? Foi neste momento que levantei os olhos e vi o balão vermelho já todo inflado. Uns cinco homens o seguravam com cordas. Cheguei perto e me deparei com a primeira grande dificuldade: preso ao balão havia um grande cesto com divisões quadradas onde cabiam umas quatro pessoas. Havia oito delas. Portanto, seríamos 32 pessoas levadas por um único balão. Isto, sem contar com o balonista que o elevaria, e o pousaria, esperava, com maestria. O beiral deste compartimento deveria medir um metro e vinte de altura. Pensei: como poderia entrar lá, uma vez que não havia portas? Era feito de vime sólido e inteiriço. Mostraram–me, na trama do cesto, buracos intercalados formando uma escada. O primeiro, a meio metro do chão. Eu tenho dificuldade de subir em ônibus, que é mais baixo do que isso. Imagina num balão, onde a expectativa, misturada com outros sentimentos, dificultaria a tarefa. Dois homens vieram para perto de mim e me suspenderam, como se eu fosse um peso-pluma. Coloquei um pé; depois outro, passei a perna por cima e pulei para dentro do balaio. Consegui entrar! Depois que todos estavam dentro fizemos um pequeno treinamento para o pouso. Todos se agachavam, o máximo que podiam, para que, se houvesse impacto, as pernas não estivessem estendidas e a coluna não pressionasse o cérebro. Fácil foi agachar. Difícil foi levantar só com a força das pernas, pois não havia muito espaço para ajudar com os braços. Quando consegui, exultei, principalmente ao ver que o balão já estava a dois metros do chão. Foi subindo, subindo, subindo. A vista que se descortinava era incrível. Esta região da Turquia é única no mundo e é chamada de “paisagem lunar”. As formações rochosas, provocadas por erupções vulcânicas e a erosão, são exóticas e a natureza criou formas incríveis de cogumelos gigantescos. Tínhamos companhia no céu. Outros balões coloridos voavam acima do nível onde estávamos. As máquinas fotográficas funcionavam sem parar. Agora o balão passava a uns cinco metros de uma rocha. Tinha-se a sensação de que ia bater e precisaríamos estender os braços para afastá-lo do perigo. Em outros momentos ele chegava bem perto da montanha e, rapidamente, passava por cima. Foi uma sucessão de sentimentos no nosso coração: euforia, medo, poder e liberdade. Me senti como um pássaro, como no meu conto “O pássaro livre”. Voamos durante uns cinqüenta minutos até começarmos a perder altura para o pouso. O balonista sempre sabe onde vai alçar vôo, mas não sabe onde vai descer. A equipe de suporte se comunica com ele através do rádio, para ter as coordenadas calculadas pela direção do vento e velocidade. Eles se dirigem em vans, para o local, para ajudar na aterrissagem. Não podemos curtir este momento porque tivemos de nos abaixar para a posição recomendada e, desta forma, não dá para ver nada. Não senti quando ele tocou no chão. As pessoas começaram a se levantar e eu recomendava que voltassem à posição de segurança. Foi quando um braço masculino passou por cima da beirada do vime e me puxou. Vi o rosto de um membro da equipe de terra. O vôo havia terminado e estávamos de volta ao nosso mundinho.