Descobertas de vida

O homem chega em casa com o olhar distante, bem mais calado do que de costume e liga a TV. Todos os dias a mesma coisa. Olha para os filhos sentados do outro lado da sala brincando no chão. As marcas na face enrugada traduzem o tempo que passou (...).

As suas pernas em movimento autônomo acordam todas as manhãs sem a necessidade do despertador. Suas mãos são fortes e grossas, a voz rígida e intocável. Respeitado entre os amigos. Acorda cedo todas as manhãs e chega do trabalho a noite para jantar com a mulher e os filhos.

Seu fosse um jardineiro seria mais feliz? Mas o que é felicidade? Realmente vivo bem, tenho posses, carros e posso viajar para onde desejo.

Ele vai até o quarto e encontra a mulher na janela, olhando a paisagem, segura a mão dela e diz: - Amor você é feliz? Sem pensar muito ela responde: - Sim, tenho uma vida tranqüila e sem preocupações. Ele percebe que sua mulher também está mudada, ele se lembra de quando eram jovens: saiam para comer sorvete, iam ao cinema e quando viajavam juntos, queriam conhecer o mundo. Sai da sala com mais dúvidas ainda. Vai ao escritório, senta na cadeira e adormece.

No outro dia acorda as cinco da matina com o barulho do jornaleiro deixando o jornal de domingo a sua porta. Aos domingos sempre acorda quando bem entende. Ainda com todas aquelas dúvidas na cabeça, não consegue esquecer o que aconteceu ontem. Sempre o seu cachorro vai buscar o jornal, mas desta vez ele se recusou.

Como já está acordado, levanta da cama, veste a roupa e sai, sai à rua sem saber para onde, fazia tempo que não fazia isso, olha tudo de uma maneira diferente, a cada passo vê detalhes que nunca percebera antes.

As pessoas possuem um olhar brilhante, sorrisos que davam gosto de ver parecem outras e todas estão à flor da pele, vivas, alegres e com um ar de simplicidade em seus semblantes.

Continua a andar e pára na entrada de um parque verde, com árvores de alto porte e banquinhos ao lado das estátuas e monumentos, de repente inicia uma chuva forte, grossa, com gotas que molham as flores e as fazem florir. Chove até quando o sol se abre.

A nuvem presenteia o dia com o pôr do sol admirável na tarde de verão de um céu artístico, tom pastel, nuvens de algodão alaranjadas pelos raios iluminados. A luz do sol clareia a vida.

Da chuva formou- se um lago verde-esmeralda, assim como é o mar. Ao redor do lago ele vê uma grama extensa, com canteiros cheios de flores: Saudade, Boa noite e Lírios que enfeitavam com toda a delicadeza. Árvores de jabuticaba e coqueiros que habitam o lago Paixão.

Senta em um banco branco, de uma arquitetura magnífica e clássica, com assento de nuvens e plumas, construído por anjos. Vê os velhinhos alimentarem os pássaros. Olha as crianças brincarem de peteca, esconde-esconde e lembra-se de seus filhos. Crianças sobem em árvores para colher o fruto que não é proibido. O fruto colhido no pé pode ser consumido por todos e não há estrago.

Na tarde de domingo os adultos brincam com as crianças sem medo do pensamento de terceiros. O pôr do sol é uma bênção gratuita. O respeito é regra que não é muito difícil de ser seguida. As pessoas não falam alto nem grosserias. Jovens sentam embaixo de árvores para ler, contar histórias, recitar poesias nunca esquecidas:

O Bonde

Não se pode desistir!

Não podemos ver somente o bonde passar

Entremos no bonde da vida!

Esta vida!

Mais por que ir? – Não sei

Somente sei que se ficarmos parados, não iremos descobrir!

A chuva cessou e o sol se despediu. As estrelas da noite brilham astros luminosos que são, acentuam o amor dos casais. E a lua aparece fazendo a troca com o sol; duas almas gêmeas, eternos amigos. A noite enluarou.

É a felicidade que se mostra em sua vida. Todos os momentos no parque ficam em sua memória. Realmente ele está feliz. É a entrada da primavera. Percebeu que a vida tem gosto, que ela pode ser doce e que nas coisas simples, ele encontraria a felicidade.

DandaraOlive
Enviado por DandaraOlive em 12/11/2008
Código do texto: T1278898
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