Quando os olhos expressaram o que o coração sentia

Quando os olhos expressaram o que o coração sentia

Tiago Caldeira

No momento em que eu liguei pra ela percebi algo ruim. O telefone tocou, tocou e não foi atendido, pois estava desligado. O MSN sempre “off-line”, no meu e-mail nada de mensagem dela. Diante disso, já não pensava em mais nada além de ir ao seu encontro. Foi o que fiz. Ao chegar o clima era denso.

Antes que eu trancasse a moto ela já estava falando:

- Eu tenho que entregar o seu boné! Eu perguntei:

- Mas porque tanta pressa? Eu te emprestei ele ontem!

Ela exclama mais uma vez:

- Mas tenho que te entregar é seu!

Naquele momento meus pensamentos pareciam estar neblina do, não conseguia imaginar algo de bom, muito menos, movimentar...

Na tentativa de melhorar o que evidenciava ser mal para mim eu a chamei para sentar.

Foi quando ela falou:

- Não eu não posso! Eu perguntei:

- Por quê?

Ela me respondeu:

- Por que não!

Cada vez ela trazia respostas incompletas e eu sempre sem entender o que estava acontecendo. Assim mais uma vez eu insisti:

- Por favor! Vamos sentar para conversarmos... Só assim ela topou.

Quando estávamos sentados, lado a lado ela começou expressar dizendo:

- Eu não te liguei porque preciso te falar algo, pessoalmente, vai ser ruim para nós, mas, tenho que te falar...

Com ansiedade e frustração eu estava vivendo a situação. Fazer o que, além de pedir:

-Querida pelo amor de Deus, me conte o que estar acontecendo.

Foi neste momento que ela definitivamente afirmou:

- Temos que terminar

Ela voltou a falar:

- Minha mãe fica repetindo o tempo todo: “menina você não quer mais estudar só que encontrar aquele pobretão”. Isso foi o suficiente para os meus olhos expressarem o que o coração sentia. A sarjeta suja serviu de um confortável sofá. O boné que ela havia me entregado ficou caído sobre a minha face escondendo as lágrimas que rolavam... Beijos, abraços, confidenciais e filmes compartilhados naufragaram na lembrança de um namoro terminado por influências de terceiros. O que fiz de errado? Eu me perguntava calado.

Este foi um relacionamento transitório, por mais que alimentei não tive a duração que almejava. Não é comum ter relacionamentos com distinções sociais, mas, o importante é o valor atribuído. Neste caso a família fez sua intervenção em razão da minha condição social. Ainda bem, que estes mesmos olhos mudaram sem perder a identidade de um sujeito humilde, sincero e sensível.

(Tiago Caldeira da Silva)

Caldeira Silva
Enviado por Caldeira Silva em 12/11/2008
Código do texto: T1278735
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