Pensando em Ti - Comentários
TODOS OS SENTIDOS NOS TEXTOS DE CÁRMEN NEVES
Maria José Limeira
Recebi pelo correio convencional o livro de poemas
“Pensando em ti...”, de Cármen Neves.
Li-o com interesse e emoção.
São textos inquietantes, enfocando o erotismo, tema
dos mais difíceis, que a autora trata com todo
respeito e com a maior seriedade.
Os poemas de Cármen Neves escorrem como água de
riacho, numa simplicidade comovente, sem se importar
com obstáculos.
Não conheço a autora pessoalmente, pois milhares de
quilômetros separam o pobre Estado da Paraíba, onde
resido, de Santa Catarina, onde ela mora.
Mas, isto não impede de observar que ela escreve como
fala, e seus textos contam histórias.
Histórias que descrevem a nova Mulher exigindo o
espaço que lhe é de direito. Nua, na cama. Ora
submissa, ora dominadora, mas sempre presente.
A apresentadora da obra, Claudete Lucyk, diz que a
Poesia de Cármen Neves “pouco tem de técnica, porque
não é este o objetivo”.
Eu acrescento: o que falta em técnica, sobra em
sentimento.
O que interessa no livro é a revelação dos sentidos e
a coragem de dizer abertamente o que a maioria
esconde.
Mesmo abordando tema difícil, a autora não se perde em
exaltações e escândalos. Sua postura é tranqüila, de
quem sabe das coisas, transmitindo-a simplesmente, sem
mais delongas, como lições de vida.
O mais interessante no livro de Cármen Neves é que os
poemas formam um conjunto compacto, permitindo ao
leitor apreendê-los um a um, ou no todo.
Há palavras-chave que funcionam como traços de
ligação, página a página: pele, olhos, boca, ouvidos,
nariz, garganta, coxas, sexos, homem e mulher, como
expressões de todos os sentidos do erotismo, em plena
realização.
Como exemplos, cito alguns trechos dos poemas de
Neves:
“Quero devorar-te com os olhos, com
as mãos e com a boca”.
“Cada segundo que passa, sinto meu corpo exalar
um desejo incontrolado por ti”.
“O toque de tuas mãos másculas, em minha pele
macia, libera o desejo que está em todo o meu ser”.
“Ficaste totalmente ao meu comando e pude usar
minhas mãos, boca, pernas, seios, em teu copo ereto”.
“O desejo em nossos olhos é cristalino”.
“Por um instante, senti teu cheiro de homem”.
“Neste exato momento, estarei aos teus pés
ajoelhada e inteiramente submissa, sentindo toda
a tua masculinidade em minha boca”.
A novidade é que, sem intenção de mostrar erudição, e
usando a linguagem mais simples, sem retoques ou
enfeites, a autora consegue prender a atenção, da
primeira à última página. Como caixinha mágica, que
surpreende a cada instante, com um gostinho de venha
mais.
(Maria José Limeira é escritora e doce jornalista
democrática de João Pessoa-PB).
BIOGRAFIA
Maria José Limeira (Ferreira) nasceu em João Pessoa-PB, Brasil, fez curso (incompleto) de Filosofia Pura na UFPB. Presa, em 1964, pelas forças da repressão, no Quartel do 15RI, abandonou seus estudos superiores,auto-exilando-se nas cidades do Rio e São Paulo, onde conviveu com os escritores Aguinaldo Silva, Vinicius de Moraes, Assis Brasil, José Edson Gomes. Conheceu, no Rio, o poeta português e crítico literário Arnaldo Saraiva, da cidade do Porto, que dedicou a ela seu livro ""Encontros/Des-encontros, amizade que perdura até hoje. Retornou à Paraíba nos anos 70, quando ingressou no Jornalismo, começando como repórter até chegar a ocupar cargos de Direção em diversos jornais, inclusive no semanário "O Momento", que ajudou a fundar...
Livros publicados:
"Margem", "Aldeia virgem além", "As portas da cidade ameaçada", "O lado escuro do espelho" (contos); "Olho no vidro"(novelas) e "Luva no grito" (romance). Escreveu também peças teatrais, como "Os maloqueiros", "O transplante" e "O alcoólatra". A peça "Os maloqueiros" recebeu Menção Honrosa em concurso de âmbito nacional promovido pela Prefeitura Municipal de Belo Horizonte-MG. Atualmente, escreve um livro de "Memórias".