Cenário da Vida
Outro dia estava muito radiante com a idéia de enfim poder ir a um dos espetáculos do FIT (Festival Internacional de Teatro). Saímos, eu e a minha irmã de carro até o parque das Mangabeiras para assistirmos “Aguto”, uma performance de rua de um grupo teatral africano, em uma oportunidade rara de se ver.
Sexta-feira, Belo Horizonte, trânsito congestionado, fomos o mais rápido possível, mas quando chegamos ao parque, qual a “surpresa” que tivemos? O espetáculo era no Parque Municipal. Não soube exatamente o que fazer na hora, se soltava um grito de raiva, ou se afundava minha cabeça no primeiro buraco que encontrasse, pois a culpa era toda minha, devia ter olhado direito o jornal para não cometer tal engano. Enfim, acabamos saindo dali e tentamos chegar ao centro da cidade, para assistirmos ao menos um pedaço do espetáculo, todavia, a tentativa foi novamente frustrada. O trânsito fez com que chegássemos ao local tarde demais.
Voltamos para nossa casa no bairro Santa Inês e bem na porta de casa, um barulho: o pneu furou. “Só isso que faltava para completar o dia!”, pensei. Nossa sorte era que o mecânico Serafim tinha uma oficina logo ao lado. Depois do pneu trocado fui ao Teatro Alterosa para assistir a um espetáculo de bonecos – “Contos da China” de uma companhia também chinesa. Desta vez, olhei com cuidado o jornal, pois errar é humano, mas cometer o mesmo erro seria assinar um atestado de burrice. Demorei cerca de uma hora para comprar o ingresso e não encontrei mais lugares nas cadeiras, mas não me importei com isso e sentei no chão mesmo.
Soa o apito, apagam-se as luzes e o espetáculo começa. Abre-se o cenário um peixe e um mico-sagüi, tentando pescar passam por muitas dificuldades, afogam-se e quando conseguem alguns peixes, se afogam, depois insetos acabam com o momento de paz. Na representação, a cena, novas risadas, tudo muito divertido. Percebi algo curioso durante o espetáculo: o cotidiano retratado pelos bonecos era repleto de acontecimentos desagradáveis, às vezes brigas, momentos indesejáveis, mas no final tudo era visto com humor.
Acendem-se as luzes, o espetáculo acaba é hora de ir embora do teatro satisfeita pelo encerramento da lição, mas não sem antes passar no bar-restaurante “Arrumação”, para refletir e colocar a mente em ordem em um dia em que depois de tantos aborrecimentos acabei aprendendo com os “Contos da China” a olhar os fatos cotidianos com uma visão diferente, como um retrato da vida cômico diante das adversidades que nesta noite renderam-me esta crônica.