Sorte Não, Perseverança
03h23min. Horário brasileiro de verão.
Outra noite daquelas em que elas – as palavras - me obrigam a estar aqui diante do computador. Ficam gritando em minha cabeça o tempo inteiro até que eu me renda, e cá estou.
Ontem à noite estivemos um shopping na cidade vizinha à que moramos. Estávamos passeando num dos corredores em que havia um quiosque especializado em jogos de cartas, principalmente pôquer - sim, antes que você me pergunte, essa afirmação possui um sujeito oculto que será revelado mais adiante.
Meu conhecimento sobre pôquer é idêntico ao que sei sobre mandarim, nulo.
A questão na verdade não é essa. Esses jogos praticados inclusive profissionalmente, têm muito mais a ensinar do que possamos imaginar. Mexem demais com a inteligência e é necessário ter raciocínio rápido e lógico, além de exercitar a previsibilidade.
O fato de não jogar pôquer não me aflige. Conheço outros jogos. Claro que em minha concepção talvez menos complexos, mas conheço. Amadoramente pratiquei alguns em momentos de lazer em família.
A minha ida ao shopping teve a princípio um propósito real: comprar um livro pelo qual me apaixonei desde ter lido a sinopse, e mal sabia eu que iria descobrir tantas coisas, que sozinha, ou melhor, sem estar na companhia de quem me abrira os olhos para os detalhes mais importantes, sequer ousaria imaginar.
Ao chegar a minha casa então, fiquei pensando sobre o simbolismo que envolve os jogos. E não poderia deixar de citar o que hoje ele – o querido, sujeito oculto da frase acima citada - mostrou-me de perto: os baralhos usados nos cassinos, as fichas de apostas e tudo o mais que envolvia a arte de jogar pôquer. Mas, por puro desconhecimento o jogo de cartas que vou usar como exemplo é o buraco, que pelo menos ainda me lembro, embora também não jogue há anos.
Quando eu era mais jovem, costumava passar uns dias de férias na casa da minha avó materna. Uma de minhas primas morava na mesma casa e me ensinou a jogar buraco. Durante o tempo que eu ficava lá, jogávamos todas as noites e eu nem sempre tinha a sorte de “bater” ao final da partida. E detestava perder. Aliás, não conheci até hoje ninguém que dissesse o contrário.
Com o passar do tempo, fui percebendo que não podia mudar a situação no momento em que recebia as cartas. Às vezes eu dava sorte e recebia seqüências quase inteiras, e era mais fácil. Mas às vezes, “morria” com um monte de cartas na mão porque não tinha como usá-las nem com ajuda de um coringa sequer.
Com a malícia que fui adquirindo na prática contínua, consegui muitas vezes reverter o quadro, começando com cartas muito ruins e com o andamento da partida a situação tornava-se favorável, até que muitas vezes vencia.
Questão de habilidade e raciocínio que só a prática possibilita desenvolver.
Quantas vezes iniciamos etapas na vida com cartas ruins? Muitas.
Algumas dessas situações demoram um tempo razoável pra passar, quase fazendo com que abandonemos a partida porque a seqüência parece que nunca vai melhorar.
Talvez eu nem consiga contar quantas vezes isso já me aconteceu e por vezes eu não soube esperar e desisti.
Tudo é questão de adquirir habilidade exercitando a paciência para transformar em êxito o jogo que começou com todas as perspectivas de terminar em fracasso.
Só o tempo é capaz de sedimentar em nós a capacidade para esperar o momento de revelar as cartas. E se perder uma partida, jogue a segunda, a terceira, não desista.
Se não pode trocar as cartas, o melhor a fazer é pensar a maneira mais inteligente de jogar.
Também não importa a categoria e muito menos o que está em jogo.
Ganhar ou perder dependerá muito mais da calma e planejamento para reverter um momento ruim, do que da sorte lançada meramente ao acaso, se é que ele existe.