Preciso de você tanto quanto você de mim.
O homem é o único animal que fala. Sendo assim essa é uma das características que todos nós, seres humanos, temos em comum. A fala que o homem usa para se comunicar pode ser gestual, oral ou escrita. Mas todas elas têm a mesma origem: a palavra. Aquilo que denomina o real, aquilo que torna real o irreal. Nós podemos fazer muitas coisas sozinhos: podemos respirar andar, comer, dormir. Pode ser óbvio, mas eu nunca havia pensado nisso, dessa forma. Quem disse foi Doblin ,mas quem me contou foi Alberto Manguel em seu livro A cidade das palavras. Mas para falar nós precisamos do outro. É preciso que alguém ouça o que eu falo que alguém leia o que escrevo. A conclusão que Doblin chegou é que a linguagem é um modo de amar os outros. Já fui de muito falar, hoje sou mais de escutar. Escrever e escutar são minhas formas de amar os outros. Também ler o que os outros escrevem, que é uma forma de escutar.Escutar com os olhos.
Acho que escrevo por instinto. Já não sei viver sem escrever. Mas é um instinto diferente porque é um instinto guiado: ora pela emoção, ora pela razão. Escrevendo, existo. E não me esqueço disso. Vou contando minha história, não de forma linear, nem regular. Nem de forma verdadeira, como julgam que a verdade deva ser. Muitas vezes, de forma enlouquecida, deixando a imaginação tomar conta de mim, a imaginação que reconstrói o passado e fabrica o futuro. Quando escrevo, leio a mim mesma. Quando escrevo, preciso que me leiam, Preciso receber o retorno. Assim como, quando falo preciso que me escutem e me respondam. Mente quem diz que só escreve para si mesmo. Escrevemos para nós mesmos, mas também para o outro.Porque o outro é a nossa resposta, a imagem que o espelho nos devolve.
Leio por necessidade. É que lendo, aprendo. É lendo que me reconheço. É lendo que vejo no espelho tanto a imagem que desejo ver quanto a que não desejo. É lendo que sei que existe um outro além de mim. Realidades que se fundem a minha e que me fazem humana. E as histórias que leio se misturam com as que escrevo e já não se sabe mais onde uma começa e outra acaba. No outro descubro os pensamentos que eu não soube pensar. No outro descubro o que eu já sabia, mas nunca havia se manifestado em mim. Ou para mim. Através do pensamento do outro transformado em linguagem é que descubro os caminhos que levarão a formulação do meu próprio pensamento. E lendo o que eu escrevi é que me descubro outra vez. Às vezes não me reconheço, às vezes me reencontro. Mas nunca fico indiferente.
Ler e escrever são os caminhos que uso para buscar a individualidade. Porque é isso que quero ser. Um indivíduo sem máscaras. Fragmento que se desprendeu do Todo e que um dia voltará ao Todo para ser Uno. Levando em sua essência a experiência de ter sido gente. A criatura completando o Criador. Porque eu preciso dEle para existir e Ele precisa de mim para existir como Criador. De mim, como um símbolo. De mim, como eu mesma. Eu sou a escrita e a leitura de Deus. Assim como você.