LEI DA CAUSA E EFEITO

Um certo prefeito de uma cidadezinha do interior do Brasil era homem humilde que vez em quando movido pela própria sinceridade e inevitável teimosia se metia em cada uma que só vendo. Tem uma passagem memorável e inenarrável quando o mesmo convidado para uma reunião com o Governador do Estado e em posse do ofício chamou aos berros a secretária do gabinete.

___Dona Sônia venha aqui agora que tenho que falar uma coisa!

Dona Sônia, militante do PRS – Partido da Revolução Socialista e uma verdadeira líder comunitária sem demora foi acudir o homem.

___Sim Senhor Prefeito estou aqui e às suas ordens...

___Pede prá Contabilidade fazer três diárias que amanhã estarei indo logo cedo à capital! Tá marcado uma audiência com o nosso Governador e preciso estar lá antes da hora do almoço. Quero assinar aquele convênio da construção da escola no bairro das Amarelinhas. Como diz o ditado: “Caboclo que chega mais cedo na fonte bebe água limpa”.

Dito e feito, o Prefeito e seu motorista pegaram a estrada e bem cedo, lá pras cinco da manhã e antes das dez horas já estavam no Palácio.

Lá chegando o Prefeito se dirigiu diretamente para a ante-sala onde um assessor do próprio Governador já o aguardava.

___Senhor Prefeito já o esperava, muito prazer! Meu nome é Protógenes e sou assessor de gabinete do Governador. Infelizmente o mesmo pediu que o acompanhasse no almoço, porque por motivos de força maior ele só poderá atendê-lo logo depois. Vamos para um restaurante no centro, o senhor me espera na porta que vou pegar o carro no estacionamento.

Protógenes era conhecido no meio administrativo como “assessor fanfarrão”, daqueles que esbanjava o dinheiro do governo com restaurantes finos, viagens, festas e muita badalação e se julgava acima de qualquer um, simplesmente porque havia se formado na Universidade de Havard e falava fluentemente três línguas.

___Em sendo assim o que se há de fazer, só vou liberar meu motorista que vai resolver outras coisas prá mim aqui na capital e a gente vai almoçar, ressaltou o prefeito.

E rumaram para o centro. Eis que a duas quadras do restaurante o carro do assessor apresentou um problema. O mesmo pediu desculpas ao prefeito e do celular ligou para um guincho vir pegar o carro para deixá-lo numa oficina especializada.

Chegaram num restaurante italiano e escolheram uma mesa ao centro, sendo então recepcionados pelo garçom que prontamente trouxe-lhes o cardápio.

___Boa tarde! Sejam bem vindos! Em que posso servi-los?

O assessor sem cerimônia já foi logo sugerindo como entrada um prato típico conhecido como “Carpaccio Tonnato” e me traz um “Chianti” para acompanhar, e indagou o prefeito:

___E o senhor Prefeito, o que vai pedir?

O Prefeito meio desconcertado e de olho no cardápio, visivelmente abatido disse quase que imediatamente:

___O mesmo que o senhor...

E assim os dois foram prontamente servidos e passaram a degustar o “Carpaccio” acompanhado daquele vinho tinto e genuíno da região de Toscana.

O garçom solícito chega à mesa e questiona se haviam escolhido o prato principal e, prontamente o Protógenes anuncia:

___Bom!... Deixe-me ver!... Ah! Traz-me um “Filé ao Gorgonzolla”... E o Senhor Prefeito?

___O mesmo para mim!...

Minutos depois foi servido o prato principal e, notava-se a apreensão do prefeito com aquela absurda situação. Um misto de vergonha e arrependimento, mais que isso, um verdadeiro sarcasmo e logo com ele, um humilde cidadão e prefeito eleito de um pacato Município.

Nisto, o Protógenes solicita do garçom a sobremesa e se põe a observar atentamente, e por minutos o cardápio.

___Para sobremesa um “Creme de café” por gentileza. O mesmo para o senhor, Prefeito?

___Isso! O mesmo para mim!

Após a sobremesa o assessor pede a “conta” para o garçom e o prefeito tira logo a carteira, era necessário dividir a despesa. Não tinha hábito de lesar quem quer que seja.

___Senhor Protógenes quanto foi a conta?

O assessor sem delongas disse apenas que ele mesmo pagaria, até porque era de praxe o que ele fazia. Levou a mão ao bolso e tirou o seu cartão de crédito. Fez um sinal para o garçom que prontamente levou o cartão para debitar o valor da despesa. Após cinco minutos o garçom chega e sem alarde alega que o seu limite estava estourado.

Protógenes leva um susto. Como um homem na sua condição tinha o cartão bloqueado, isso era uma vergonha! Do seu celular ligou para a administradora do cartão, para o banco, para um e para outro e não havia meios de resolver tal situação.

Nisto o prefeito, homem humilde, pacato, apenas com o seu curso primário, sem pestanejar tirou seu cartão e entregou ao garçom. A conta foi paga e o Protógenes acabara de ser informado e por telefone da sua exoneração por motivo meramente desconhecido.

Moral da história: Não se deve humilhar as pessoas, porque quando isto acontece algo pode realmente nos surpreender e, como tal, ainda vigora e sempre vigorará a “Lei da causa e efeito”.

PS.: Esta é um obra de ficção. Qualquer semelhança com personagens ou a própria situação terá sido uma mera coincidência.

Pirapora/MG, 08 de novembro de 2008.