Penso, Logo Existo - Uma breve reflexão sobre educação infantil
A alguns dias atrás conversava com um amigo, que após um acalorado debate de filosofia (onde ele foi quem falou mais, pois estuda filosofia), ele largou, tranquilamente "Se seguirmos ao pé da letra a frase filosófica PENSO, LOGO EXISTO... Tem gente que não faz a mínima idéia de que não existe."
Como que fazendo eco a isto, nós dois olhamos para televisão, que anunciava a nova temporada do seriado "Rebelde" no Boomerang (um canal infanto-juvenil de televisão à cabo)... E caímos na gargalhada. Esse programinha é uma das provas de que não existe muita vida inteligente nos programas voltados a crianças e adolescentes, pois é um dramalhão mexicano que tenta bancar o programinha educativo e não consegue. É que nem livro do Paulo Coelho para quem gosta de literatura de verdade. Só faz sucesso porque tem alguém com estômago e preguiça demais para pensar e, consequentemente, consome esse tipo de porcaria.
Quando éramos crianças as coisas eram diferentes. Brincavamos mais na rua, líamos livros de qualidade (Julio Verne, Coleção Vaga-Lume, C.S. Lewis e suas histórias sobre Alice, O mundo da criança - uma coleção de livros muito boa...), viamos desenhos animados bem mais bobinhos (Pica Pau, Disney, Flintstones....) e liamos histórias em quadrinhos do Pato Donald e da Mônica.
As crianças de hoje? Quando não estão se empapuçando de besteiras na frente de um pc ou de videogame, estão atrofiando o cérebro vendo porcarias como "Rebelde", desenhos animados ultra violentos ou enlatados americanos tipo "Power Rangers". Leitura? Só se o colégio obrigar e olhe lá.
O engraçado (e triste) nisso tudo é que as crianças desta geração estão, teoricamente, mais inteligentes para informática...E umas verdadeiras antinhas no quesito língua portuguesa. Como a maioria de seus pais não tem o hábito de ler, acabam não sendo estimulados a fazer isso... E resta aos professores lerem as barbaridades escritas nas provas, onde se somam erros de português, interpretação deficiente e uma alarmante falta de interesse por qualquer coisa que não envolva as telinhas do pc ou da tevê.
Sou tida como sádica por algumas conhecidas, pois dou livros de presente a minha sobrinha de oito anos. O que elas não entendem é que a minha sobrinha adora ler, pois cresceu ouvindo histórias de fadas dos livros que eu e a mãe dela ouvimos, contadas por nossa falecida mãe, e sempre viu todos nós (os pais, a titia aqui e o avô dela) lendo livros bons.
Porque estou contando isso? Para ilustrar que o exemplo vem de casa. Não adianta reclamar que a criança não gosta de ler e estudar, ou xingar que ela só passa hipnotizada pelas telinhas se não se dá o exemplo. Não me entendam mal. Eu gosto de ver televisão. Gosto de navegar na internet. Gosto de jogar no computador...Mas tenho outras alternativas para me divertir e aprender, ao mesmo tempo. Como? Leitura!!!
É fato comprovado que as pessoas que cultivam o hábito de ler tem um vocabulário mais amplo, questionam mais e aprendem mais coisas do que quem fica hipnotizado pelo Faustão todas as tardes de domingo. A leitura on-line também é válida...Desde que o texto não seja escrito em "internetês", onde "não" vira "naum" e por aí vai. Já li cada coisa por aí que me fez ficar estática, com cara de quem chupou limão, pensando "Putz...Esse daí passou longe do corretor ortográfico!!!!".
Acho que é por isso que eu prefiro ser a tia "sádica", que dá livros de presente e muda de canal quando aparece alguma coisa na televisão que não é apropriado para a idade de minha sobrinha, com a benção de minha irmã. O resultado disso? Temos em casa uma menina de oito anos que não está precocemente erotizada e nem acha que Carla Perez e afins são exemplos de vida. Uma criança que é criança, não uma pré-pré-aborrecente que quer se pintar porque as coleguinhas se pintam feito ídolos adolescentes e os pais acham engraçadinho. Uma menina que nunca teve dificuldades de alfabetização e que nunca terá problemas em ler um livro, pois tem o exemplo em casa.
Educação vem de berço...Não só a prática, do dia-a-dia, como a intelectual. O tempo passado em frente a uma telinha e a qualidade do que é visto influenciam muito na formação da personalidade de uma criança. Os exemplos dados pelos pais, no tocante de gosto por leitura, tratamento das pessoas e a maneira que se comportam, também. Nossas crianças de hoje serão os adultos de amanhã e o reflexo da educação que dermos a elas no presente.
Eu sei que a minha sobrinha vai saber que existe, pois saberá pensar por si própria.
As demais crianças que ela convive em sala de aula? Sinceramente, não sei.
Pensem nisso.