Vesti azul
Tínhamos um encontro. Meu coração saía pela boca e pouco dormi naquela noite. As horas que antecediam o momento foram de adrenalina tão intensa, que quase me causava desmaio.
O vestido, o perfume, as sandálias, os brincos. Tudo planejado e combinado, para não parecer que o fizera. Não queria que nada estragasse o que eu esperava. Não queria que ninguém notasse, mas o brilho dos meus olhos denunciava a emoção. Meu olhar sempre me trai.
Óculos escuros, tentativa de disfarce. Cheguei finalmente ao local. Você já me esperava. Eu, nervosa, nem conseguia atravessar a grande Avenida. Fiquei cega, surda. Só sentia meu coração bater forte.
Já conversávamos há quinze dias, mas era a primeira vez que o via. Ao acenar, de longe, senti que não era uma bobagem. Nos abraçamos, amigos, mas seu perfume era daqueles que eu gostava. Ainda gosto.
Íamos nos analisando, mas enquanto isso, um café, mãos dadas. Suas mãos firmes, grandes, másculas iam me conduzindo aonde eu nem imaginava daria para se chegar.
Ficamos horas juntos naquela tarde. Almoço, andamos até o cinema, um café, a sobremesa que você me ofereceu, na boca. Perfeito. Eu tremia, você mexeu comigo. Na fila do cinema, nossos beijos.
Houve uma reação positiva. Quanto a isso não me enganei. No entanto, lá sentados, estranhei. Você parecia querer assistir ao filme mesmo. Respeitei. Você me acompanhou até o metrô.
Depois senti você distante. Não entendi nada. Nem quis entender. Continuamos a nos falar. Eu tinha avisado que devíamos manter apenas a amizade. Eu tinha dito que não devíamos nos ver!
Lembra o que me respondeu?
_ Ah, não, agora a gente vai ter que se ver, nem que seja para um abraço. Uma terapia do abraço.
O final, desastroso. Você devia ter acatado minha opinião. "Vesti azul, minha sorte então mudou".