DESENHANDO CORAÇÕES NA AREIA...

 

    Amanhecia e a praia estava praticamente deserta. Uma bola de fogo surgia bem longe no horizonte anunciando que seria um dia quente. Eu caminhava em silêncio, sentindo uma suave brisa no meu rosto além daquele cheiro caracteristico do mar.

    Ao longe um pescador solitário observava a sua linha, absolutamente imóvel. Mar a dentro, passáros voavam alvoroçados, certamente em busca do primeiro alimento do dia.. Continuei caminhando até que vi ao longe o vulto de uma mulher.

   Seus cabelos esvoaçavam acompanhando o rítmo do vento, a água tocava suavemente seus pés e ela parecia não se importar. Ao me aproximar percebi que ela riscava alguma coisa na areia com a ponta de um enorme graveto.

    Chegando mais perto vi que se tratava de dois enormes corações entrelaçados. As ondas de um mar calmo entretanto teimavam em avançar pela areia e desmanchar o desenho , mas ela não desistia. Esperava serenamente que as ondas retornassesem ao seu lugar de origem e voltava aos rabiscos sem se importar se alguém estava olhando ou se o que ela insistia em riscar na areia fosse novamente apagado por aquele mar insistente.

    Confesso que fiquei curioso com a cena e não me contendo fui me aproximando cautelosamente e então pude observar o que aquela moça fazia.

    De fato ela estava desenhando naquela areia úmida e clara dois enormes corações e em cada um deles gravava uma letra.

    A jovem, era linda. Cabelos negros, olhos claros e parecia chorar. Ao perceber que eu a observava ela me olhou com aqueles olhos tristes e sem que eu perguntasse, me disse que uma daquelas letras era a do seu nome e a outra, do seu amado.

    Perguntei porque motivo estava insistindo em escrever e desenhar aqueles corações na areia se em seguida as ondas do mar vinham , e sem pedir licença apagavam tudo .

    Sem se perturbar ela me explicou que sabia que os desenhos não ficariam ali para sempre, mas nem porisso ela deixaria de desenhar .

    Perguntei onde estava o dono daquele coração, da outra letra e ela, com um olhar mais triste ainda me explicou que ele estava longe, bem longe, e que talvez tão cedo pudesse voltar. Tinha viajado ao exterior para concluir estudos numa Universidade. Eles se viam uma vez por ano e se correspondiam , trocavam doces palavras de amor através do computador.

    Continuei minha caminhada e um pouco mais distante parei e olhei para trás. Aquela bela jovem continuava com seus desenhos.

    Respirei fundo, senti mais uma vez aquela deliciosa brisa tocando meu rosto e olhando para o horizonte, comecei a pensar sobre quantas vezes nas nossas vidas também desenhamos corações na areia, mesmo sabendo que as águas do mar, com suas ondas teimosas virão e desmancharão os desenhos, alguns sonhos, alguns nomes.

    Muitas vezes desenhamos nossos sonhos nas areias da nossa mente. É claro que as ondas poderão atingir os desenhos e desmanchá-los, eliminá-los. Mas o segredo é continuar insistindo nos desenhos, nos sonhos.

    Apesar de todas as dificuldades, de todos os obstáculos, os sonhos sempre deverão continuar sendo sonhados, se é que posso falar dessa forma.

    Muitas das vezes queremos uma coisa, sonhamos com alguma coisa, mas quando vem a primeira onda e apaga temporariamente esses sonhos e desejos, julgamos que o melhor é desistir, deixar de sonhar.

    Mas é um engano. As grandes realizações, as maiores conquistas, quase sempre começam com um sonho. Como são tão dificeis, tão absurdas, impossíveis de serem realizados, mas só na nossa opinião, é como se estivéssemos desenhando corações na areia e desistíssemos de continuar o desenho, apesar deles serem apagadaos pelas ondas do mar.

    A grande verdade é que, ainda que desenhos, frases e sonhos sejam escritos na areia úmida, mesmo que esses sonhos , frases e desejos sejam apagados, temos sempre o recurso de desenhá-los novamente além do que, chega uma hora que também temos a opção de mudar de lugar para escrevermos o que quizermos nas areias.

    É bem verdade que mesmo mudando de lugar para podermos nos afastar do mar, enfrentaríamos o vento , que também pode apagar qualquer coisa que porventura tenhamos escrito nas areias.

    Isso entretanto não significa um sinal ou aviso que o melhor seria desistirmos. Muito pelo contrário. A cada vez que as ondas de um mar teimoso e insistente apagarem os corações desenhados, nossos sonhos e nossos anseios, devemos repetir o desenho ou no mesmo lugar, ou um pouco mais além.

    Ainda que o mar apague os desenhos ou que o vento sopre mais areia sobre o que tivermos desenhado, devemos insistir sempre. Sonhar sempre. Vai chegar uma hora em que as ondas do mar vão se afastar para um lugar mais distante e o vento, certamente vai soprar numa outra direção.....

 

 

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(.....imagem google.....)

WRAMOS
Enviado por WRAMOS em 09/11/2008
Reeditado em 05/02/2013
Código do texto: T1274184
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