EFÊMERAS RECORDAÇÕES
Sempre que faço o percurso de Mossoró à Natal, em determinado trecho dessa rodovia, é inevitável não me lembrar das minhas raízes e dos meus primeiros anos de vida. O ponto ao qual me refiro, e que me traz estas saudosas recordações, é a antiga subida que dava acesso à estrada para Ipanguassu – um pouco depois da Adega da Ponte.
Este caminho conduz à comunidade rural de Acauã – meu lugar de nascimento – que pertence, hoje em dia, ao município de Itajá. Lá da rodovia, ainda, se avista o “Restaurante da Peixada”. No entanto, e infelizmente, já não existe mais a casinha nem o pé de cajarana.
Por isso, quando acordei hoje, o arquivo de minha memória evidenciou cenas da minha infância. Inicialmente, veio-me a reminiscência das conversas com meu mano mais velho – Wollas – nas quais ele recordava, todo saudoso, da sua rotina em todos os amanheceres: do alpendre da casinha bem no alto da colina, ainda meio sonolento, espreguiçando-se, ele se preparava para cumprir uma prática constante e diária: levar o gado para pastar e dar-lhe de beber, transportar capim no lombo do jumento através das veredas de carrapichos, moer milho para fazer o pão, caçar preás e tantas outras coisas que faziam parte da rotina dos moradores do campo e, em especial, dos que compunham a família de Alice Lopes, a nossa matriarca.
Como não poderia deixar de ser, meu personagem toma corpo nas lembranças e se insere na história da casinha do alto da colina. Quando o final de ano chegava, as férias escolares me levavam de volta para os habitantes da comunidade e eu me juntava a todos de Acauã e partilhava dos sonhos sonhados por mim e meu irmão, quando juntos dividíamos as tarefas árduas - mas prazerosas – de andar pelo campo, “pastorando” o patrimônio de toda uma vida.
Junto com essas lembranças veio, inclusive, o aroma cheiroso do café preparado artesanalmente e, através dele, lembro-me, de forma especial, de um dia em que estávamos todos dentro da casinha em período chuvoso e, portanto, de relativa fartura. Isso ficava evidente através da corda armada e esticada, de um lado para o outro da despensa, apinhada de caças – já salgadas e secas – pegas no fojo e que significavam, para nós, uma frigideira cheia de óleo e um monte de carne torrando. O olfato agradecia o cheiro cheiroso, vindo da cozinha, e esperava ansioso o momento de se fazer presente, à mesa, e ver, colocado pela “chefa”, o naco em cada prato daqueles ávidos comilões.
Mais de uma dezena de pessoas reunidas faziam, naturalmente, o que nos dias atuais é uma raridade: saboreávamos aquela refeição sem pressa. Sentíamos o sabor de cada alimento e o mesmo procedimento era adotado em relação à vida. Cada minuto era aproveitado no que havia de melhor e estivesse ao nosso alcance. Tempo bom – sem dúvida!
Infelizmente, estas recordações foram, bruscamente, interrompidas em virtude dos compromissos do meu mundo real e, voltar ao presente, foi a maneira de deixar, mais uma vez, adormecidos as lembranças e o meu lugar.
Sempre que faço o percurso de Mossoró à Natal, em determinado trecho dessa rodovia, é inevitável não me lembrar das minhas raízes e dos meus primeiros anos de vida. O ponto ao qual me refiro, e que me traz estas saudosas recordações, é a antiga subida que dava acesso à estrada para Ipanguassu – um pouco depois da Adega da Ponte.
Este caminho conduz à comunidade rural de Acauã – meu lugar de nascimento – que pertence, hoje em dia, ao município de Itajá. Lá da rodovia, ainda, se avista o “Restaurante da Peixada”. No entanto, e infelizmente, já não existe mais a casinha nem o pé de cajarana.
Por isso, quando acordei hoje, o arquivo de minha memória evidenciou cenas da minha infância. Inicialmente, veio-me a reminiscência das conversas com meu mano mais velho – Wollas – nas quais ele recordava, todo saudoso, da sua rotina em todos os amanheceres: do alpendre da casinha bem no alto da colina, ainda meio sonolento, espreguiçando-se, ele se preparava para cumprir uma prática constante e diária: levar o gado para pastar e dar-lhe de beber, transportar capim no lombo do jumento através das veredas de carrapichos, moer milho para fazer o pão, caçar preás e tantas outras coisas que faziam parte da rotina dos moradores do campo e, em especial, dos que compunham a família de Alice Lopes, a nossa matriarca.
Como não poderia deixar de ser, meu personagem toma corpo nas lembranças e se insere na história da casinha do alto da colina. Quando o final de ano chegava, as férias escolares me levavam de volta para os habitantes da comunidade e eu me juntava a todos de Acauã e partilhava dos sonhos sonhados por mim e meu irmão, quando juntos dividíamos as tarefas árduas - mas prazerosas – de andar pelo campo, “pastorando” o patrimônio de toda uma vida.
Junto com essas lembranças veio, inclusive, o aroma cheiroso do café preparado artesanalmente e, através dele, lembro-me, de forma especial, de um dia em que estávamos todos dentro da casinha em período chuvoso e, portanto, de relativa fartura. Isso ficava evidente através da corda armada e esticada, de um lado para o outro da despensa, apinhada de caças – já salgadas e secas – pegas no fojo e que significavam, para nós, uma frigideira cheia de óleo e um monte de carne torrando. O olfato agradecia o cheiro cheiroso, vindo da cozinha, e esperava ansioso o momento de se fazer presente, à mesa, e ver, colocado pela “chefa”, o naco em cada prato daqueles ávidos comilões.
Mais de uma dezena de pessoas reunidas faziam, naturalmente, o que nos dias atuais é uma raridade: saboreávamos aquela refeição sem pressa. Sentíamos o sabor de cada alimento e o mesmo procedimento era adotado em relação à vida. Cada minuto era aproveitado no que havia de melhor e estivesse ao nosso alcance. Tempo bom – sem dúvida!
Infelizmente, estas recordações foram, bruscamente, interrompidas em virtude dos compromissos do meu mundo real e, voltar ao presente, foi a maneira de deixar, mais uma vez, adormecidos as lembranças e o meu lugar.
Obs. Imagem da internet