As horas
Era tarde... Cansada do trabalho e da faculdade, em um ônibus lotado, voltava pro meu lar.
Tentava me equilibrar, disputando milimetricamente o espaço com os demais, ao meu lado percebi um homem inquieto, olhava o relógio, secava o rosto, mas ao meio daquele empurra-empurra, quem não estaria de certa forma, inquieto?
Um celular toca, o homem ao meu lado atende, parecia ainda mais nervoso...
Sei que não é de bom tom escutar a conversa dos outros, mas aquela cena me chamou atenção. Num tom aflito, ao telefone dizia:
- Me deixa falar com ela... Me deixa falar...
De repente, sua feição mudou, tornou-se mais branda, sua voz tomou um tom doce, e dizia:
- Filha, papai tá chegando... espera...tá com muito sono?
E voltou:
- Conversa com ela, já estou chegando.
E um tanto tristonho, finalizou a ligação.
Percebi, então, o motivo de tanta inquietude e aflição. Muito provavelmente, tem uma rotina atribulada, como a minha e de tantos outros milhões...Ter de sair de casa ainda escuro e retornar com sol guardado há tantas horas.
Certa noite, minha mãe, que sempre aguarda minha chegada cochilando no sofá, me disse que sentia minha falta e lamentou quanto tempo não conversávamos,o quanto não sabia mais de mim.
Nesta hora meu coração ficou apertado, o que dizer para uma mãe que sente falta do filho, que reclama a falta de um carinho seu?
Faltaram –me palavras... Sei como aquele pai se sentiu... A mesma sensação que tive diante da minha mãezinha, impotência!
Naquela noite segui minha rotina, banho, comi alguma coisa, dei um beijo na minha flor, pedi-lhe a benção e fui dormir...
Sonhar com o final de semana para finalmente colocarmos a conversa em dia...