Banho de civilização
Sempre que me preparo para a minha viagem anual ao Rio de Janeiro, me vêm à memória histórias interessantes.
No tempo que o meu Nordeste era tão atrasado que beijo na boca era coisa só de cinema - nesse tempo, acreditem se quiserem, mas nem prostituta queria beijar o freguês na boca - viajar para o Rio ou São Paulo, mesmo sem Comandos Vermelhos ou de outras cores, era uma viagem e tanto!
E os mais intelectualizados gozavam, falando para o viajante:
- Vais tomar um banho de civilização, hein?
Antes da década de 60, essa viagem era um desafio. Avião era coisa só de políticos ou de militares (pela FAB). O cidadão comum, para chegar ao Rio, tinha que pegar um navio do Lóide Brasileiro ou um ITA e passar 15 dias no mar. Tanto que as viagens através dos navios ITA ficaram celebrizadas pela canção de Dorival Caymmi:
"Tomei um Ita no Norte
E vim pro Rio morar,
Adeus meu pai, minha mãe,
Adeus, Belém do Pará."
De qualquer forma, revendo a Praça Paris, Av. Presidente Vargas (onde, nos meus tempos de jovem cidadão do Rio, se realizavam os desfiles de Carnaval), Cinelândia, Largo da Carioca, Flamengo, Ipanema, Copacabana, Corcovado, Pão de Açúcar, Jardim Botânico, os meus saudosos subúrbios da Central do Brasil, por Deus e todos os diabos, civilizado eu não garanto, mas apaziguado com a minha perene saudade do Rio, isso eu volto!
Mas, como dizia o Juvenal Antena, "muita calma nessa hora"! Nada de dar bobeira: não parar para falar com ninguém, não exibir ares de turista, ficar de olho no chofer de táxi, não chegar perto da Linha Vermelha ou Amarela, etc. etc. E se você já recebeu uma praga de sogra, jogue-se ao chão imediatamente ao ouvir qualquer estampido: pode ser um pneu estourando, mas pode ser uma bala perdida que caminha em sua direção!
E (olho em volta, para ver se a minha mulher não está "discretamente ligada" no que escrevo na tela) confesso: sempre volto do Rio de Janeiro mais animado, depois de olhar, nas praias, aqueles belos mulherões, enfiados em sumaríssimos biquínis!
Com certeza...