A Outra Marginalidade Brasileira
A Outra Marginalidade Brasileira
Quando falamos de marginalidade, nos referimos às pessoas que vivem à margem da sociedade ou da lei.
Lembramos imediatamente dos mendigos, delinqüentes e dos fora da lei. Entretanto, no caso específico do Brasil, existe uma outra marginalidade, cujas causas podem ser resumidas em três aspectos do relacionamento desses indivíduos, que constituem essa “outra marginalidade brasileira”:
a grande dificuldade que esses indivíduos têm de identificação, de forma total e irrestrita, com qualquer dos outros grupos sociais;
a grande facilidade que esses “outros marginais” têm de constatar pontos de identificação com todos os outros grupos sociais;
a grande facilidade que esses mesmos indivíduos têm de sentirem-se , até certo ponto, rejeitados pelos outros grupos sociais com características específicas e bem definidas.
Assim, apesar de esses indivíduos descenderem dos índios, negros e brancos; de terem o gosto pelo peixe, pela farinha, pelo batuque, pelo maracatu, pela literatura e pela música clássica; de trazerem nos corações e mentes a independência do índio, a resignação do negro, a astúcia e a ganância dos exploradores brancos, poderão vir a ser uma síntese dessas raças, mas nunca mais uma delas. São os “sem raça”.
O mesmo ocorre com os que, pela desordem social reinante, migram de classe ou não conseguem entender o objetivo real de suas profissões. São os “sem classe” e os “sem profissão”.
Da mesma forma indivíduos que, na procura de Deus, escolhem o caminho das religiões e, após algumas tentativas, desistem por falta de devoção. São os “sem religião”.
É esse mesmo grupo de indivíduos que, ao perceber sua identificação com a África, Portugal, França, Holanda, Espanha e Brasil, também percebe que não é o bastante. Mais que isso, por já ter vivido a experiência de ser um grupo sem raça, optam, coerentemente, pela eliminação das fronteiras. São, os “sem pátria”.
Apesar de toda essa confusão, os “sem raça, classe, profissão, pátria ….” guardam, nos seus corações e mentes, que um dia não só serão a maioria, mas, também, a raça síntese das raças. Simplesmente, terráqueos e operários da arquitetura universal na face do planeta azul.
“O Sem” aponta essa desordem e a correspondente evolução; alerta para os cuidados que devemos ter com o progresso e afirma sua fé de que “os sem” serão os que primeiramente experimentarão o nascimento do homem universal.
O “Sem”
Não sou índio,
não sou negro,
nem sou branco,
sou sem raça.
Não sou elite,
não sou da massa,
nem sou da média,
sou sem casta.
Não sou engenheiro,
não sou peão,
nem sou enfermeiro,
sou sem profissão.
Não sou judeu,
não sou cristão,
nem sou budista,
sou sem religião.
Não sou Portugal,
não sou África,
nem sou Brasil,
sou sem pátria.
Subverto esta ordem em desordem,
sou a favor de uma vida natural,
sou contra o caos pelo progresso,
sou “sem”, mas sou universal.