O MAMOEIRO ENCANTADO DO TIO BEPE
O mamoeiro; se contorcia, se equilibrava, se encurvava, se melava, se amarelava todo; com a dezena de frutos, enovelados, juntos a sua copa. Um deles, o mais maduro tinha um buraco arredondado, sem dúvida, marca da bicada de um sanhaço esfomeado!
_Cuidado não o deixe cair! Cuidado, se ele cair vai esborrachar no chão. Nossa! É o maior de todos!
Pegou o fruto nas mãos, cheirou, acariciou como se estivesse acarinhado o rosto de alguém muito querido, e continuou:
_Deve pesar quase três quilos. Aurora, meu bem, pé de mamão igual a este, nunca mais vai existir!
De fato o Carica papaya L., tão admirado, já fora pesquisado por um dos cientistas da Escola Superior da Agronomia, a ESALQ. É que, um dos primos do dono do mamoeiro, convidou o seu orientador do doutorado para conhecer, o tal do pé de mamão.
Tio Bonomo Giubinna, também conhecido como tio Bepe vinha de São Paulo, onde ele tinha uma tipografia, na Rua Felix Guillen na Lapa de Baixo, para visitar a parentalha no interior. Primeiro, o casal passava em Santa Bárbara d´Oeste; é que nesta cidade, se concentrava a maior parte da italianada. Depois vinha para Piracicaba.
E a cada passeio, a cada novo ano em suas férias, ele chegava com um carro diferente, dos modelos das várias marcas conhecidas no Brasil, a grande maioria ainda importados: Chevrolet Bel Air, Chrysler, Dodge, Dkv-Vemag Belcar, Sinca Chambord, Aero-Willys, e até um Fusca da Volkswagem, bem, esse já estava sendo fabricado no Brasil.
A festa ficava por conta da criançada! O tio Bepe, junto a sua esposa Aurora vinha passar uns dias na casa da sua Irmã Irene, nessa época ela morava com a sua filha Doca. Aos domingos, ele fazia questão de levá-la para passear em Águas de São Pedro. De quebra, sempre os acompanhavam duas ou três crianças, netas da sua irmã.
O alvoroço era tanto durante o passeio. Levavam uma cesta de comida caseira das mamas italianas, de fazer inveja aos piqueniques dos filmes hollywoodianos. Pães, geléias, crostolis, sardellas e frutas, entre elas o mamão do famoso pé!
Num desses passeios, ao descerem do carro na pacata cidade das Águas, um policial, no seu vistoso uniforme azul marinho, prendia um traficante de maconha, uma situação rara em meados da década de 70. E, como ainda acontece nos dias de hoje, o fluxo de turistas sempre foi grande, nessa estância de águas termais. Tio Bepe pediu aos seus familiares para ficarem no carro, enquanto a confusão não passava.
Ao voltarem à Piracicaba, Irene ainda assustada contou para seus familiares a situação vivenciada nas Águas.
_Nossa! Levamos um susto muito grande. Além de a cidade estar cheia de terroristas, a polícia prendeu na nossa frente um mandioqueiro!