O LADO ROMÂNTICO DA MORTE
DEVANEIOS DE UMA TARDE
Numa tarde nublada e sem cor, ele teve visões.
Como de costume, estava sentado na mesa do seu escritório e olhava a rua pela janela do 12° andar.
Como de sua cadeira ele só enxergava o topo de alguns prédios frios e sem vida, resolveu se levantar para ver o movimento daquele mundo lá em baixo.
Ele precisava mesmo espairecer a mente, já que se encontrava escrevendo por 12 horas a fio.
Os carros se moviam em ordem, sem barulho, enquanto as pessoas na calçada trombavam entre si.
Viu uma moça ser assaltada e ela distraída ao celular se deu conta segundos depois de que o ladrão havia levado sua bolsa.
Teve um deja vu com aquela cena e voltou para sua mesa.
Já sentado com os braços cruzados, viu calmamente sua mente se transportando para três meses atrás, onde ele a via sentada tomando o café que a dona Bertha havia feito e ele odiava saber que a perderia em poucos dias.
Trocaram algumas palavras tolas e ela se foi.
A marca do seu batom em sua xícara o fez lembrar do seu ultimo beijo escondido no corredor do prédio.
Tudo isso foi interrompido com um telefonema que simplesmente o apavorou e o tirou de seu transe.
Mas era ela, três meses depois, dizendo que estava sentada no banco da praça da faculdade vendo a chuva passar, enquanto aguardava uma carona pra casa.
Antes de ela dizer que queria um colinho seu, ele já estava abraçando-a.
Ela fazia parte dele.
Trocaram algumas palavras confusas e a ligação caiu.
Imaginou que o cartão havia acabado e voltou a seus afazeres, mas foi bruscamente interrompido por pensamentos sobre os dois, sobre tudo que escrevera naqueles três anos sem entender aonde queria chegar.
“O ser humano apaixonado fica inspirado, porém atônito.” Disse consigo.
Ele estava perdidamente louco de paixão por ela, que mesmo depois de morto, não aceitava estar longe daquele amor.
Renato foi encontrado morto no estacionamento do seu prédio.
Nunca se soube o motivo real de sua morte. Se ele foi jogado de seu apartamento ou se ele se matou.