PRIMEIRAS PALAVRAS

O mundo era só berço, peito e braço. Todos faziam tudo por mim, dos banhos ás fraldas, bastava um tintin de lágrimas e um tantan de berros e eu tinha tudo o que queria, sem precisar dar nada em troca, até que começaram a exigir que ao menos, eu os pagassem com a primeira palavra.

- Fala papai! –dizia o homem que pelo cheiro, cara e boca, eu reconhecia ser meu pai.

- Fala mamãe – dizia a mulher que pelas olheiras no lugar de óculos, só podia ser a minha mãe.

Queria agradá-los, por isso, trabalhei na palavra. Sentindo o som formar-se na minha garganta, a idéia pré-concebida na alma, fiz dos meus grunhidos fala:

-Pa-pa-pa – eu disse, não era gago entendam, mas bastou três “pa” para o meu pai, gritar triunfante e ligar para os amigos para marcar a cervejada, contudo, minha mãe, mais atenta e de certa forma, para se vingar, notou que o “pa” que eu falava tinha um outro significado e tratou de avisar ao papai “vitorioso”.

- Ele não falou pai, nem papai! – respondeu ela – Ele disse outra coisa...

- Como assim? – duvidou meu pai – Vamos, filhão, fala de novo: PAPAI!

Tratei de obedecer e novamente, fiz a mágica das palavras e disse;

- Pa...

- Não te disse ! – comemorou meu pai, interrompendo as minhas primeiras falas. Desde cedo, eu já aprendia que as pessoas não gostam de escutar e só ouvem o que querem. - Fala mais uma vez, filho, para convencer essa sua mãe...

- Pa-pa... - obedeci - Pel - finalizei -Papel! Papel! Papel!

- Pa PEL? – repetiu meu pai, sem acreditar no que ouvia – Papel?

- Isso mesmo, amor! – disse minha mãe, já conformada, o filho não seria médico, nem doutor das leis, o menino seria paciente das letras, pois estava condenado ao papel e a tinta, seria escritor.

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